Nós: os que com aspirinas esfareladasnos bolsos, umas quantas gravaçõespiratas de urros de amores antigosem trampolins, com novelos de atritoem torno de cantos suaves de gravilhae eco e pedaços e lixa e fita-cola . Nósdos papéis dispersos e das cançõesinterrompidas, do cansaço, das mãosao alto, das fotocópias encardidas,das bocas feridas por palavras de línguasimpuras e frases tardias, tão suaves,caducas. Dos inventários de usos vulgares,futuros, escorregadios, aguçados por delíriosde extensos quintais muito misturados,com arames e bichos, algum sentido práticono que toca a pôr um pé em frente ao outroe necessidades dispensáveis na presenteconjuntura, e canções desnecessárias e clarofiéis aos poucos a trajectórias obscurascomo desastres e que não temos de todo idadepara estas coisas, nem velocidadepara deslocar ombros como deve ser,e já respirámos melhor, e amarinhámospor um qualquer poema longo acimaquando tínhamos sei lá quinze anose levávamos o nosso amor por carcaçasaté à melodia agoniada de estremecer ao meio.Os de longas sombras na voz imatura.Os que arrastam os pés e se chegam à beirae ficam à porta mansos em ponto mortotontos de tanta rua e tão alto tecto estremecidoe da urgência e do som da ganga velha a roçare resfolegando vão chegando a velhos e a mudose se devoram. O das diligências diz-se inúteis.Temos caudas assim, vagas como rumoresde mais gente e de imensas agulhas dançantes.E mil anos que vivêssemos não viveríamossem achar graça a repetir palavras enredadas.
Não nos convencem que as antenas nos telhadosNão virão a dar jeito nos episódios seguintes.Vais ver: não chegarão para tanto alpinismoe falta de ar rente ao solo e nova distribuiçãode pares para a dança nas alturas e de tarefasminuciosas como desenhar novos mapas,reinventar o telescópio, trocar por exemplode hábitos depressa e outros sobressaltos.E mesmo assim com tudo isto tememosa reacção dos avós ao urro, ao baloiço solto,e sabemos bem onde temos as inocênciasmas não lhes mexemos nem por nada,a par de outros recursos necessáriose intangíveis, nós, que nos juntámosaos puxadores de alavancas escondidas,que nos entregámos a paixões dificilmentepor via respiratória, e que de alguma maneiraachamos que seria bom ter patas traseiraspara o primeiro impulso para dentro do atritodo dia ser mais fácil, e tivemos livres trânsitosem cabelos alheios de vez em quando.
Nós os que nunca tivemos artepoética ou outra, verdadeiramente,nem álbuns de fotografias a sério,que não chegámos a ver as contrapartidasprometidas para o desbotar dos rostosdebruçados, adiados anjos, nós, caídos,fomos preparando versões alternativasdas agulhas curvas de desembaraçaro som do frio e imitar o som de vespas.Porque também não nos explicaramao certo o que fazer com estes pescoçostão pouco flexíveis e este andar perroe estas almas só levemente anestesiadas.
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Vamos às vezes ao fim da tarde à esplanada
Compramos o jornal à sexta-feira
para passar os dedos pelas estreias
e de novo medirmos em mortos
a intensidade actual dos conflitos.
Temos preferências na água com gás
e na adequada temperatura do café.
Quando damos pela vida trememos
como frigoríficos depois de breve hibernação.
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Afinal não nos recompusemos da derrota.
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E afinal ainda queremos quase tudoe usamos, quando podemos,a primeira pessoa do plural.
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