Mais um bitaite sobre a esquerda, a luta de classes, a mudança de vida e outras trivialidades
À desaforada esperança, como é natural, sucedeu-se uma depressão excessiva. A certeza de que alguma prateleira nalgum hexágono continha livros preciosos e de que esses livros preciosos eram inacessíveis pareceu quase intolerável. Uma seita blasfema sugeriu que cessassem as buscas e que todos os homens misturassem letras e símbolos, até construírem, por meio de um improvável dom do acaso, esses livros canónicos. As autoridades viram-se obrigadas a promulgar ordens severas. A seita desapareceu, mas na minha infância vi homens velhos que longamente se ocultavam nas latrinas, com uns discos de metal num covilhete proibido, e francamente imitavam a divina desordem.
(Jorge Luis Borges, «A Biblioteca de Babel», Ficções - O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam, 1941)
Há duas coisas que eu sei imitar mais ou menos bem: a voz esganiçada que os Monty Python fazem quando se vestem de mulher e a divina desordem. Cumpro também alguns dos restantes requisitos: já estou a ficar velho, a ausência de dons obriga-me a confiar no improvável dom do acaso e tenho uma latrina. Até mandei vir uns discos de metal e um covilhete para compor o figurino.
Há duas coisas que eu sei imitar mais ou menos bem: a voz esganiçada que os Monty Python fazem quando se vestem de mulher e a divina desordem. Cumpro também alguns dos restantes requisitos: já estou a ficar velho, a ausência de dons obriga-me a confiar no improvável dom do acaso e tenho uma latrina. Até mandei vir uns discos de metal e um covilhete para compor o figurino.
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