quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Debate «Crise e revolução na Europa»


Debate «Crise e revolução na Europa»

Com a participação de Ana Méndéz Andés, Observatorio Metropolitano (www.observatoriometropolitano.org)

Quatro anos de crise e três de programas da austeridade e de cortes sociais parecem demasiado. A actual condução da política económica europeia (o Banco Central, a Comissão, Merkel e Sarkozy) não nos levou a nada que se assemelhe à tão esperada recuperação. Pelo contrário, a sua submissão obcecada aos interesses dos credores (leia-se grandes bancos) só serviu para animar a maior operação de socialização da dívida privada da história europeia (leia-se crise da dívida soberana e quebra previsível dos chamados Estados periféricos). E levou-nos, o que é ainda pior, a uma situação de crise permanente e «sem saída» possível. Perante a ausência de outros protagonistas, o desenlace da tragicomédia europeia ficou reduzido à alternativa entre uma mudança radical (de que nem a classe política nem as elites económicas parecem capazes) e a insistência no neoliberalismo galopante, que ameaça destruir o projecto europeu, incluindo a sua moeda.

O Observatorio Metropolitano, um projecto sediado em Madrid que reúne um conjunto de colectivos militantes num espaço de reflexão sobre os fenómenos que caracterizam as metrópoles contemporâneas, acaba de publicar o livro Crisis y Revolución en Europa (pode ser comprado ou descarregado em http://traficantes.net/index.php/editorial/catalogo/otras/Crisis-y-revolucion-en-Europa). À luz dos recentes desenvolvimentos da crise europeia e da luta social, propomos uma discussão em torno do conteúdo do livro.

Organização: UNIPOP e RDA-69

Local: RDA-69 (Regueirão dos Anjos, n.º 69, Lisboa – http://rda69.wordpress.com/)

Data: Dia 4 de Dezembro, das 18h às 20h

Entrada livre.


terça-feira, 29 de novembro de 2011

Tempos que correm

Comunicado sobre os acontecimentos do dia da Greve Geral de 24 de Novembro de 2011

Considerando a manifestação de 24 de Novembro em Lisboa, dia de greve geral, os momentos de brutalidade policial que aí ocorreram, a difusão mediática destes acontecimentos e a natureza das acusações formuladas contra os manifestantes, sentimo-nos obrigados a reclamar o “direito de resposta” para impedir a calúnia gratuita e a perseguição política.

Acreditamos, por aquilo que vemos, ouvimos e lemos todos os dias, que a televisão e os jornais são poderosos meios de intoxicação, de controlo social e de propagação da ideologia e do imaginário capitalista. A maioria das vezes recusamo-nos a participar no jogo mediático. Desta vez a natureza e gravidade das acusações impele alguns de nós a escrever este comunicado. A leitura que fazemos da realidade e daquilo que é dito sobre os acontecimentos do dia da greve geral tornam evidente que:

I. Está em curso acelerado a mais violenta banalização de um estado policial com recurso a agentes infiltrados, detenções arbitrárias, espancamentos, perseguições, bem como a justificação política de detenções e a construção de processos judiciais delirantes sustentados em mentiras.

II. Sobe de escala a montagem jornalístico-policial que visa incriminar, perseguir e reprimir violentamente – veremos mesmo se não aprisionar – pessoas que partilham um determinado ideário político, pelo simples facto de partilharem esse ideário. A colaboração entre jornalistas e polícias na construção de um contexto criminalizante tem o seu expoente máximo nas narrativas delirantes da admirável Valentina Marcelino do Diário de Notícias e das suas fontes, como José Manuel Anes do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo.

III. A participação na construção deste discurso por parte de inúmeras instâncias de poder, desde sindicatos e partidos até ao mais irrelevante comentador de serviço, cria o clima ideal para que o anátema lançado sobre os “anarquistas” ou os “extremistas de esquerda” ajude a legitimar a montagem de processos judiciais, a invasão de casas, as detenções sumárias. Ao contrário do que a maioria pensa, são realidades com as quais convivemos há já algum tempo.

Por isso mesmo, vimos deste modo dar a nossa versão do que aconteceu no dia 24 de Novembro. Sendo que acreditamos que estamos especialmente bem colocados para falar do que aconteceu porque criámos um “Grupo de Apoio Legal”, que acompanhou a manifestação e está a procurar defender judicial e publicamente os detidos nesse dia por forças da ordem pública.

Fazemo-lo não por se tratar de companheiros “anarquistas”. Aliás, não só nenhum deles se conhecia entre si antes de ser detido, como nenhum de nós conhecia previamente nenhum dos detidos - a própria polícia será testemunha de que nem sabíamos os seus nomes.

Fazemo-lo porque – ao contrário dos sindicatos – consideramos que é nossa responsabilidade, enquanto indivíduos lúcidos, activos e organizados, apoiar e mostrar solidariedade com todas as pessoas que se juntam a uma greve que nós também convocámos. Sobretudo para com aqueles que foram vítimas de repressão e perseguição na sequência desse dia.

Temos por isso acesso aos processos e estamos neste momento a reunir provas e testemunhos que possam repor a “verdade legal” que, sabemos já, chegará tarde de mais para ser atendida pelos ritmos e critérios jornalísticos. Sobre o que aconteceu no dia 24 Novembro em São Bento temos testemunhos, vídeos e fotos que documentam o seguinte:

_Não sabemos exactamente o que aconteceu nos segundos de agitação em que as grades de contenção foram derrubadas. Infelizmente não estávamos no local e não pudemos participar. Sabemos apenas que, na sequência dessa confusão, um grupo de três polícias infiltrados apontou um alvo, num canto oposto a onde se deu o derrube (na rampa junto à Calçada da Estrela). Esse alvo era um rapaz de 17 anos, estudante no Liceu Camões. Poucos minutos depois, já fora da manifestação e em plena Calçada da Estrela, os três homens não identificados abordaram o rapaz e enfiaram-no num carro sem anúncio prévio de detenção. Várias pessoas, entre elas alguns colegas e professores, manifestaram-se contra essa detenção, aparentemente injustificada. Mais tarde, outro homem com cerca de 30 anos é detido de forma idêntica.

_Pode-se ainda observar claramente em vários vídeos que as três detenções que tiveram lugar no local onde as barreiras policiais foram derrubadas foram levadas a cabo por agentes não identificados que entraram no corpo da manifestação para deter, arrastar e algemar sem qualquer aviso os manifestantes. Segundo as leis que os próprios dizem defender, qualquer detenção com estas características tem um nome: sequestro.

_Já no fundo da Calçada da Estrela, três jovens dirigiam-se ao Minipreço da Rua de S. Bento quando um grupo de quatro homens que não se identificaram como agentes policiais, agarrou um deles e o encostou à parede. Enquanto um dos agentes à paisana afastava os outros dois, um rapaz com 21 anos de origem alemã era agredido brutalmente, como foi testemunhado por várias pessoas e registado em vídeo. Tudo indica que o agente que a polícia diz ter sido ferido se magoou na sequência desta detenção ilegal no momento em que o rapaz alemão procurava resistir a uma agressão sem sequer perceber ainda o que lhe estava a acontecer. A polícia veio mais tarde justificar a sua acção pelo facto de o rapaz ser perigoso e procurado pela Interpol.

Parece-nos da ordem do fantástico que todos os jornalistas e comentadores que se pronunciaram sobre o sucedido pareçam acreditar que um juiz de instrução possa libertar imediatamente alguém procurado pela INTERPOL.

O que para nós fica claro, após os acontecimentos descritos, é que se preparam novos métodos de contenção social e se assiste a uma escalada na repressão de qualquer gesto de contestação.

Neste contexto, o anúncio de que o ataque às montras de repartições de finanças foi obra de “anarquistas extremistas” é o corolário de uma operação que visa marginalizar e criminalizar toda a dissidência e toda a oposição activa ao regime que se procura impor. Não é apresentada nenhuma prova, nenhum indício que sustente sequer uma suspeita, quanto mais uma acusação.

Tornou-se uma evidência nestes anos de crise que os Estados e os seus gabinetes de finanças, têm em curso um roubo organizado das populações, através de impostos que servem em grande medida para cobrir os grandes roubos nas altas esferas do poder e da economia. Neste sentido, a criminalização dos anarquistas, e a sua identificação como o inimigo interno, serve sobretudo para isolar esses acontecimentos do crescente sentimento de revolta e da tomada de consciência social que atravessa a sociedade no seu todo.

Dito isto, é preciso salientar que um “anarquista” é, antes de tudo, um defensor da liberdade individual, da autonomia e da organização horizontal e igualitária; Que, não existindo nenhum partido ou organização central que emita uma posição correspondente àquilo que “todos os anarquistas” pensam, este comunicado é apenas uma visão parcial de alguns indivíduos que partilham um património filosófico e social que são as ideias anarquistas. Uma versão naturalmente sujeita a críticas e discussão por parte dos nossos amigos e companheiros.

Por fim, gostávamos apenas de recordar a todas as pessoas que lutam para manter a sua lucidez, que o regime implantado no dia 28 de Maio de 1926 começou precisamente por se justificar com a necessidade de combater a anarquia e de reprimir os anarquistas, que nessa altura se organizavam em torno da Confederação Geral do Trabalho. Hoje é fácil perceber a natureza desse regime, nessa altura não o era.

Ontem como hoje, cada um de nós tem que decidir individualmente se toma posição activa contra o que está a acontecer ou se, com a sua passividade, colabora com o estado de coisas.


Grupo de Apoio Legal para o 24N
Lisboa, 28 de Novembro de 2011

Retirado daqui

domingo, 27 de novembro de 2011

Classe, valor e conflito social



Múltiplos discursos políticos e ideológicos têm incidido sobre a classe trabalhadora ao longo dos últimos 150 anos. Das perspectivas de exaltação ou de atribuição de um pendor teleológico a essa classe social, às abordagens que buscam consensualizar o mundo assalariado na sociedade contemporânea, os enunciados políticos e simbólico-ideológicos em torno deste assunto têm sido variados. Nas ciências sociais, a discussão da classe trabalhadora e das classes sociais tem dado igualmente lugar a posições relativamente focalizadas numa dimensão, desde as perspectivas que vão da inserção sócio-profissional no tecido social à equiparação das classes sociais ao somatório de estilos de vida. 

O cruzamento interdisciplinar apresenta por isso potencialidades interpretativas relevantes para, por um lado, ultrapassar discursos enraizados no senso comum, que tendem a polarizar a classe trabalhadora em termos de uma maior ou menor propensão revolucionária ou conservadora no campo político. E, por outro lado, que procure superar concepções unilaterais e relativamente unidimensionais na aproximação ao objecto de estudo em equação, sejam elas portadoras de um viés economicista ou culturalista.

Este seminário tem como objectivo ampliar a discussão em torno das classes sociais - e sobretudo da classe trabalhadora - enquanto entidades colectivas dinâmicas. A sua  inscrição no processo histórico permitir-nos-à compreender o nexo entre as posições objectivas na estrutura socioe-conómica e a sua participação num contexto social, político e cultural mais amplo, com um enfoque particular sobre a produção de valor, as relações sociais que caracterizam a sociedade capitalista, as dinâmicas de  mobilização colectivo e de conflito social que tomam forma no seu seio.

(A entrada é livre)

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

o mundo a preto e branco

Para o Paulo Granjo, o mundo ou é preto ou é branco. Existem os sindicalistas que param o país, de um lado, e os milhares de pessoas que se manifestam e que lançam...duas ou três garrafas, de outro.

Mais do que o exagero, o problema do post de Paulo Granjo é a definição deturpada da realidade, a partir de uma divisão em dois lados inseparáveis.

O que hoje pude verificar distancia-se, contudo, deste cenário. As pessoas que na FCSH organizaram piquetes foram as mesmas que, horas depois, se juntaram à manifestação convocada pela plataforma 15 de Outubro. No Porto, não se lançaram garrafas contra polícias, apenas pedras contra os autocarros que furaram a greve.

Porque a realidade é, felizmente, bastante mais complexa.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Debate «”Chavs”: a demonização da classe trabalhadora»

«Chavs»: a demonização da classe trabalhadora
Com a participação de Owen Jones

Local: Livraria Pó dos Livros (Av. Marquês de Tomar, 89, Lisboa – http://livrariapodoslivros.blogspot.com/, localização aqui)

Data: Dia 25 de Novembro, das 18h às 20h

Organização: UNIPOP e livraria Pó dos Livros

Entrada livre.

A partir de uma exaustiva investigação pelos subúrbios londrinos e de um conjunto de entrevistas, o livro Chavs: The Demonization of the Working Class, publicado recentemente pelo jornalista do The Guardian Owen Jones, procura documentar os mitos e as realidades da vida da classe trabalhadora na Grã-Bretanha contemporânea. Crescentemente, uma imagem estereotipada dos trabalhadores mais pobres, sintetizada na designação chavs («chungas», «mitras», «gandulos»), esconde e justifica a degradação e o desespero de muitas comunidades de trabalhadores, tornadas cada vez mais precárias pelas alterações económicas e sociais dos últimos anos. Jones traça um retrato cru da forma como o ódio e o preconceito de classe contra os trabalhadores foram ganhando caminho por entre o aprofundamento das desigualdades e explica como, ao longo de três décadas, a classe trabalhadora foi passando de «sal da Terra» a «escumalha da Terra». Propomos um debate com o autor em torno do livro, procurando ao mesmo tempo reflectir sobre se o paradigma que ele descreve é ou não generalizável a outras realidades para lá da Grã-Bretanha.

Artigo de Owen Jones publicado no número de Setembro de 2011 do Le Monde diplomatique edição portuguesa: http://pt.mondediplo.com/spip.php?article841.

Owen Jones é jornalista do The Guardian e publicou recentemente o livro Chavs: The Demonization of the Working Class (Verso Books, Londres, 2011).

Amanhã o fantasma de Tom Joad também vai estar na Greve Geral



sábado, 19 de novembro de 2011

«O homem que comanda as "manifs" da CGTP»


Poucos dias depois de um membro da Troika ter esclarecido que Portugal não é a Grécia porque aqui as pessoas são boas, eis que um dirigente da CGTP, João Torrado de seu nome, funcionário sindical desde que eu nasci (literalmente), vem explicar ao Expresso (edição impressa, p.16) o trabalho que lhe dá "evitar tumultos". Aquele a quem os outros dirigentes chamam "o nosso comissário" esclarece que, apesar de os tempos serem difíceis, a CGTP não quer perder o seu capital de credibilidade e já redobrou os cuidados. Torrado teme especialmente os "grupos infiltrados", mas garante  ter centenas de camaradas mobilizados para a segurança. Informa a jornalista do «Expresso» que "a PSP agradece" e que uma fonte policial confirma que "nunca houve problemas a registar".
Entre os diversos problemas que não deixam João Torrado dormir, está a possibilidade de se vir a repetir um dos grandes dramas da sua vida profissional enquanto comissário sindical: "Numa manifestação gigantesca em São Bento alguém se lembrou de incendiar uma bandeira. Um erro da organização permitiu que isso acontecesse. As televisões filmaram e o caso abriu as primeiras páginas dos jornais".
Cumpre perguntar porque razão nunca se viu essas "centenas de camaradas mobilizados" para garantir que nenhum macaco sai do seu galho, por exemplo, quando o corpo de intervenção carregou sobre o piquete de greve dos CTT na última greve geral. Ou quando a polícia carregou sobre manifestantes da CGTP em Maio de 2010. Estranhamente, não costumamos ver essa "centena de camaradas mobilizados para garantir a segurança" a garantir a segurança de quem luta. Apenas a fazer o trabalho da PSP, controlando outros manifestantes e policiando as manifestações. Essa mesma PSP que detém pessoas que pintam apelos à greve geral nas paredes e lhes confisca o material. Essa mesma PSP que se multiplica em provocações e ameaças aos que não aceitam a inevitável austeridade. Que espanca os habitantes de bairros pobres. Que identifica membros dos piquetes durante a greve. Que defende a propriedade, a autoridade do Estado, a ordem pública e o respeitinho muito bonito.
Aqui fica, à atenção dos e das grevistas que na próxima 5ª feira se lembrarem de levar a sua indignação de classe mais longe do que a "credibilidade" da CGTP permite. Juntem-se à luta, mas "evitem tumultos", porque a imagem de marca da organização é que "tudo corre bem". E não se lembrem (nunca) de armar confusão fazendo a pergunta, tão óbvia quanto incontornável: corre bem a quem?

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

A ciência contra o pensamento único. Alternativas à crise

Perante a situação crítica que afecta as condições de produção de ciência em Portugal e conscientes de que partilhamos problemas generalizados aos restantes trabalhadores, um grupo de estudantes e investigadores do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS/UL) convida todos os interessados a um debate aberto em torno do quadro de crise que nos é imposto e de como propor eficazmente à sociedade formas alternativas de lidar com os problemas actuais. O fórum terá lugar na Sala Polivalente do ICS/UL, pelas 14 horas do próximo dia 22 de Novembro.

A convocação de uma greve geral por parte da CGTP-IN e da UGT para o próximo dia 24 de Novembro constitui uma oportunidade de intervenção crítica. Conscientes da partilha de problemas generalizados aos restantes trabalhadores e de particulares dificuldades e responsabilidades perante a sociedade, nós, investigadores e estudantes do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa decidimos participar nesta ocasião, dando resposta a uma necessidade amplamente sentida entre os cientistas sociais. Neste sentido, no próximo dia 22 de Novembro convidamos todos os interessados a fazer uma reflexão e debate aberto em torno do quadro de crise que nos é imposto e de como propor eficazmente à sociedade formas alternativas de lidar com os problemas actuais.
A crise, provocada por um domínio crescente dos mercados financeiros sobre as mais diversas esferas sociais e políticas, reproduz-se sistematicamente ao apresentar soluções, tidas como inevitáveis, que a experiência recente demonstra que contribuem apenas para agravar o problema. Do programa de medidas definido pela Troika às políticas de contenção orçamental propostas pelo actual governo, a austeridade tornou-se no único caminho viável. Uma via que, contudo, não deixa de assumir os mais assimétricos contornos, concentrando o ónus do sacrifício nos mais desprotegidos.
À semelhança de outras relevantes áreas sociais, a investigação científica e o ensino são também vítimas de tal lógica. O anúncio de cortes orçamentais já programados para o próximo ano vem, neste sentido, agravar as condições de trabalho de todas as pessoas envolvidas na criação e produção de ciência, já por si afectadas pela precarização e erosão progressiva de direitos. Uma dinâmica que, a expandir-se, representa uma forte ameaça às condições de produção do conhecimento científico e à sua própria autonomia, numa altura em que é ainda mais necessária a sua capacidade de propor alternativas aos lugares-comuns e preconceitos dominantes.
Por considerarmos necessária a criação de formas de debate que permitam pensar a crise e a política de uma forma aberta e não limitada pela ideologia do inevitável, convidamos à discussão, a partir das 14 horas do dia 22 de Novembro de 2011, na Sala Polivalente do ICS/UL, dos seguintes temas:
1 - O ensino superior e a investigação científica, as condições de quem neles trabalha (investigadores, docentes, estudantes e funcionários) e as limitações à produção de conhecimento;
2 - Responder à crise: alternativas e formas de intervenção.

Contra os tempos austeros, a Greve Geral!

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Comunicado da direcção da ABIC relativamente à greve geral


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os últimos anos foram de reforço do investimento público no sistema científico e tecnológico nacional. Não obstante, a situação dos bolseiros de investigação não só não se alterou, como inclusivamente tem vindo a degradar-se: generaliza-se o recurso a esta figura como forma de prover necessidades do sistema científico e tecnológico nacional que deveriam ser asseguradas mediante contratos de trabalho; persiste a situação de elevada precariedade destes trabalhadores; degrada-se o seu poder de compra (as bolsas continuam nos mesmos valores de 2002); permanecem graves lacunas no estatuto do Bolseiro; prossegue a "fuga de cérebros"; novas ameaças pairam sobre o financiamento da ciência e a promoção do emprego científico no nosso país.
Na perspectiva de um quadro económico recessivo, marcado pelo aumento da taxa de desemprego e pelo desinvestimento económico, a ABIC receia que a investigação seja gravemente prejudicada nos próximos anos, uma vez que as empresas não terão condições para implementar novos produtos e processos de base científica e tecnológica. Consideramos que esta tendência deve ser contrariada garantindo o investimento em ciência e em quem nela trabalha como condição necessária, embora não suficiente, para a retoma do crescimento económico do país. Neste sentido, a Direcção da Associação dos Bolseiros de Investigação Científica ( ABIC) não poderia deixar de apoiar e subscrever os princípios que estão na base da convocação da Greve Geral do próximo dia 24 de novembro.
A ABIC defende que os bolseiros devem ser considerados trabalhadores e ter acesso aos direitos dos demais trabalhadores, incluindo o direito à greve. Porém, porque o Estatuto do Bolseiro de  Investigação permanece por alterar, à luz da legislação em vigor os bolseiros não são reconhecidos como trabalhadores. Como tal, um bolseiro de investigação, caso decida fazer greve, exercendo um direito constitucional característico daqueles que detêm um contrato de trabalho, não estará protegido pela lei.
Mas precisamente por nos considerarmos trabalhadores, a ABIC apela a que os bolseiros exprimam a sua solidariedade com os trabalhadores em greve e que, consoante as suas possibilidades e  recorrendo à sua criatividade, apoiem a Greve Geral, de preferência em grupo e de forma organizada, segundo as formas que cada bolseiro ou conjunto de bolseiros determine possível na sua instituição. A  título de exemplo, referimos que os bolseiros que no próximo dia 24 não possam deixar de estar nos locais onde exercem a sua actividade poderão afixar no seu posto de trabalho um dístico com a indicação "GREVE GERAL" ou "Apoio a GREVE GERAL".
Para aqueles que puderem comparecer, a ABIC far-se-á representar na concentração de trabalhadores que, no dia 24 de novembro, vier a realizar-se no horário e local para tal definidos pelas centrais
sindicais que convocaram esta Greve Geral. Os bolseiros de investigação que puderem participar nesta concentração encontrarão aí um coletivo no qual se poderão integrar.
O próximo dia 24 de novembro foi também a data escolhida para o lançamento de uma petição promovida pela ABIC com o objetivo de exigir a alteração do Estatuto do Bolseiro de Investigação, promovendo a valorização da situação profissional dos milhares de bolseiros que permanecem impedidos de aceder ao estatuto de trabalhadores. Sobre este assunto, ver:
http://www.peticaopublica.com/?pi=ABIC2011.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Horizontes da memória. Ser benfiquista é ter na alma a chama imensa do colonialismo português (Iª parte)

Temos a braços uma Greve Geral para a qual todos os esforço de «unidade, unidade, unidade do trabalho contra o capital» são poucos. Mas não podemos declinar uma viagem a uma ideia de passado «glorioso», ideologicamente incólume, que os mitólogos de uma agremiação lisboeta se esforçam por reproduzir. Na tese VII «sobre o conceito da história», Walter Benjamin refere que o materialismo histórico conseguiu acabar de vez com o método da empatia, cujas origens «encontram-se na indolência do coração, a acedia, incapaz de se apoderar da autêntica imagem histórica que subitamente se ilumina». A empatia tolda juízo, a crítica historiográfica e varre para debaixo do tapete os acontecimentos do passado que não se adequam à imagem idílica que nele gostaríamos de ver projectada.

Segue a história de um acontecimento do passado, um autêntico documento de barbárie para quem escova a história a contrapelo, mas que os prosélitos do benfiquismo resolveram omitir. No início da década de 1960, o Benfica era o único clube português que dispunha de duas publicações oficiais: O Benfica Ilustrado (mensal) e jornal O Benfica (semanário). Estas duas publicações faziam eco das grandes epopeias do clube encarnado, glorificando os seus feitos e exacerbando as suas vitórias. Mas não só. Quando o fascismo começou a ruir, os órgãos oficiais do clube juntaram-se a coro de indignação nacional, lamentando a perda de Goa, Damão e Diu em 1961, as jóias da coroa do imperialismo português. A indignação patriótica e de direita chegou à primeira página do jornal O Benfica, que num editorial intitulado «Viva Portugal!» dizia:

«Não! Não há qualquer forma de sentimento, não há qualquer, maneira de pensar que resista ao amor da Pátria, que deixe de vibrar quando a terra portuguesa, nada e criada pelo sangue dos nossos maiores, é assaltada pela horda assina e cruel que mata, que rouba. (...) Agora só há Portugal! Agora só pode haver um coração, só pode existir um sangue do mesmo tipo, só pode aflorar uma palavra aos nossos lábios, aquela que nossos Pais nos ensinaram a amar desde que nascemos e que depois de crescidos compreendemos ser a única que, acima de tudo, devíamos amar e conservar – PORTUGAL! (...) Portugal, afrontado, sangra de dor! Portugal, bem ferido, chora os que perderam a vida no solo que durante centenas de anos foi cultivado pelas suas gentes e que, de um dia para o outro, se vê arrasado, destruídos pelos bárbaros da nova vaga, por aqueles mesmo bárbaros que no seu país não conseguem matar a fome aos muito milhares de miseráveis que por lá pululam num espectáculo degradante, indigno, impróprio de gente que se julga civilizada» (O Benfica, 21 de Dezembro 1961)

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Dores de cabeça a Salazar

Ao contrário do que alguns querem fazer crer, nunca o Benfica foi o clube do regime deposto em 25 de Abril de 1974. Antes pelo contrário.
No Benfica já havia democracia quando ela chegou ao País (eram célebres as assembleias gerais e as eleições no Clube) e nele chegaram a lugares de destaque conhecidas figuras da oposição.
Além disso, o Benfica inaugurou campos a 5 de Outubro e não a 28 de Maio, como outros o fizeram!...
O Benfica foi mesmo o clube que menos ligações teve com a ditadura e que mais dores de cabeça provocou a Salazar. Embora, nos últimos anos, por via das suas vitórias europeias e de ter Eusébio nas suas fileiras, tivesse dado bastante jeito ao regime, a propósito da sua política ultramarina.
O Benfica nunca se serviu do regime (antes pelo contrário); o Benfica foi aproveitado pelo regime, depois de por ele prejudicado ao longo de muitos anos.
Bastará recordar o facto de, num país onde vigorava uma ditadura e onde as eleições não eram livres, o Benfica ser um verdadeiro oásis, com as suas assembleias gerais bem concorridas e democráticas e com as eleições para escolha dos seus dirigentes, sempre muito participadas.
Ainda antes de haver democracia no País já ela era praticada no Benfica!
As raízes populares do Benfica, que têm a ver com a sua fundação (bem diferente da do Sporting, por exemplo), nunca deixaram de se fazer sentir. E, ao contrário do que se verifica nos outros clubes grandes (Sporting, FC Porto, até Belenenses), os sócios que ascenderam à presidência do clube são de vários extractos sociais, desde um operário (Manuel da Conceição Afonso) a um aristocrata (Duarte Borges Coutinho), um e outro grandes presidentes que passaram pelo Clube.
Mais que uma vez teve o Benfica declarados oposicionistas ao antigo Regime como presidentes, casos mais flagrantes do referido Manuel da Conceição Afonso, de Félix Bermudes e do capitão Júlio Ribeiro da Costa, que não se quis recandidatar, uma vez que reconheceu que a sua presença à frente do Clube estava a fazer com que este fosse seriamente prejudicado pelas entidades oficiais.

Por uma greve pirata

 Não sei muito bem o que dizer acerca da discussão (chamemos-lhe assim) em curso no 5 Dias acerca da conveniência ou inconveniência de uma ou várias manifestações no dia da greve geral. Provavelmente nada.
 Mas uma coisa me parece oportuno relembrar. Não sabemos (ninguém sabe) o que vai acontecer no dia 24 de Novembro, tal como não o sabíamos o ano passado, quando uma grandiosa manifestação convocada por desconhecidos percorreu as ruas de Lisboa. E tal como não sabíamos o que ia acontecer no dia 12 de Março, ou o que poderia acontecer durante a acampada do Rossio ou na manifestação de 15 de Outubro. Não sabemos o que o futuro nos trás, porque ele se tornou imprevisível (até mesmo para a União de Sindicatos de Lisboa). Mas sabemos que essa imprevisibilidade é já uma vitória. Os "mercados" gostam de coisas que conseguem antecipar. É preciso saber não cair nessa armadilha. E ocupar tudo.