Por causa da crise não fui ver a Rihanna ao vivo e a cores no pavilhão transatlântico. Consta que foi um espectáculo memorável, ou, como diria o saudoso João Bénard da Costa, «inadjectivável». Menos não se podia esperar da «Only girl in the world» que, além de ter transformado as onomatopeias numa espécie de Esperanto da pop actual, adicionando vários Ella-ella-ella-ay. Oh-na-na. Ay-ayy-ay-ayy-ay-ayy nas suas canções, aprofunda em cada álbum uma escatologia do sexo. O álbum deste ano, «Talk that talk», como o nome indica, não é excepção. Apesar do seu carácter monotemático, a obra de Rihanna teve este ano o seu momento Bressoniano. É conhecida a frase do filme «Pickpocket» (1959), retirei-a do citador, em que Michel diz atrás das grades: «Oh, Jeanne, quel drôle de chemin il m'a fallu prendre pour aller jusqu'à toi...». Rihanna transplantou a frase para o seu universo temático, afirmando «We found our love in a hopeless place». A frase expõe as antinomias do princípio do prazer, entrando em diálogo com o conceito lacaniano de jouissance, no qual o prazer se desdobra em dor, ou desprazer. O termo jouissance exprime a satisfação paradoxal que o sujeito retira do seu próprio sintoma ou, dito de outra forma, a satisfação que ele obtém do seu próprio sofrimento. O vídeo de Rihanna parece-me elucidativo a esse respeito.
Longe da desfaçatez de Rihanna, mas igualmente talentosa, Beyoncé lançou este ano o álbum «Beyoncé 4». Menos baladeira e sem as ego-trips que Kanye West popularizou, Beyoncé explora as nuances da sua persona no álbum. Desta feita enquanto mulher casada e feliz, que sussurra ao ouvido do marido, o multi-talentoso Jay-Z, «you ain't gotta worry 'bout a club, just come on lay up under me tonight». Lar doce lar, afinal de contas a casa é o lugar onde mora o coração.
Por falar em «clubs», a Britney Spears regressou este ano com um álbum formalmente velvetiano, intitulado «femme fatale», mas cujo conteúdo aponta directamente para as pistas de dança. Depois de Richard Thompson ter interpretado «Oops, I did it again», legitimando a sua aparente banalidade, têm-se multiplicado as exegeses sobre a obra de Britney. Mas nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
Assim como a dialéctica tem um terceiro excluído, não há três divas sem uma quarta ausente. A ausente é uma estrela em ascensão, chama-se Azealia Banks, tem o deboche como ocupação, o single «212» como aperitivo, e a frase «I guess that cunt getting eaten» como a punch-line do ano da graça de 2011: