sábado, 31 de dezembro de 2011

Foi um ano de gansterismo em roda livre, sauf...

Embora o ano tenha sido fatalmente marcado pelo assalto perpetrado pelos gansters com gravata e capital, há no horizonte, «contra todas as evidências em contrário, a alegria». Disse-o Manuel Gusmão no poema «A velocidade da luz», e o historiador Eric Hobsbawm secundou-o, afirmando: «it was an enormous joy to discover once again that it's possible for people to get down in the streets» . Assim como as nuvens correm em sentido contrário ao automóvel, os amotinados, acampados, indignados encarregaram-se de demonstrar que o futuro é um lugar aberto onde «o labirinto do destino se inventa e ramifica».

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Beba muitos copos e descubra

A crise que vivemos é uma crise económica e financeira, mas também é uma crise política. O neoliberalismo tomou, desde os anos 80, conta das nossas sociedades: as forças políticas de esquerda ou se renderam a ele ou não foram capazes de o combater. Ironia da história, o neoliberalismo rebentou com a economia mundial e quem paga a factura são os trabalhadores. Como se caracterizam estes tempos a que chamamos crise? Existe uma alternativa de esquerda às troikas deste mundo? Vá ao Chapitô, beba muitos copos e descubra.
moderado por:
Zé Nuno Matos 
Bartô, o bar do Chapitô, Costa do Castelo, 1 dia 28 /12 às 22h

revelhão no rda69

domingo, 25 de dezembro de 2011

Do céu caiu uma estrela

Por causa da crise não fui ver a Rihanna ao vivo e a cores no pavilhão transatlântico. Consta que foi um espectáculo memorável, ou, como diria o saudoso João Bénard da Costa, «inadjectivável». Menos não se podia esperar da «Only girl in the world» que, além de ter transformado as onomatopeias numa espécie de Esperanto da pop actual, adicionando vários Ella-ella-ella-ay. Oh-na-na. Ay-ayy-ay-ayy-ay-ayy nas suas canções, aprofunda em cada álbum uma escatologia do sexo. O álbum deste ano, «Talk that talk», como o nome indica, não é excepção. Apesar do seu carácter monotemático, a obra de Rihanna teve este ano o seu momento Bressoniano. É conhecida a frase do filme «Pickpocket» (1959), retirei-a do citador, em que Michel diz atrás das grades: «Oh, Jeanne, quel drôle de chemin il m'a fallu prendre pour aller jusqu'à toi...». Rihanna transplantou a frase para o seu universo temático, afirmando «We found our love in a hopeless place». A frase expõe as antinomias do princípio do prazer, entrando em diálogo com o conceito lacaniano de jouissance, no qual o prazer se desdobra em dor, ou desprazer. O termo jouissance exprime a satisfação paradoxal que o sujeito retira do seu próprio sintoma ou, dito de outra forma, a satisfação que ele obtém do seu próprio sofrimento. O vídeo de Rihanna parece-me elucidativo a esse respeito.

Longe da desfaçatez de Rihanna, mas igualmente talentosa, Beyoncé lançou este ano o álbum «Beyoncé 4». Menos baladeira e sem as ego-trips que Kanye West popularizou, Beyoncé explora as nuances da sua persona no álbum. Desta feita enquanto mulher casada e feliz, que sussurra ao ouvido do marido, o multi-talentoso Jay-Z, «you ain't gotta worry 'bout a club, just come on lay up under me tonight». Lar doce lar, afinal de contas a casa é o lugar onde mora o coração.

Por falar em «clubs», a Britney Spears regressou este ano com um álbum formalmente velvetiano, intitulado «femme fatale», mas cujo conteúdo aponta directamente para as pistas de dança. Depois de Richard Thompson ter interpretado «Oops, I did it again», legitimando a sua aparente banalidade, têm-se multiplicado as exegeses sobre a obra de Britney. Mas nem tanto ao mar, nem tanto à terra.

Assim como a dialéctica tem um terceiro excluído, não há três divas sem uma quarta ausente. A ausente é uma estrela em ascensão, chama-se Azealia Banks, tem o deboche como ocupação, o single «212» como aperitivo, e a frase «I guess that cunt getting eaten» como a punch-line do ano da graça de 2011:



quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

ai flor, ai flor de verde pino




Ao longo da cobertura da guerra do Iraque de 1991, um novo conceito de jornalismo foi desenvolvido, o de embedded journalism, o qual garantia ao exército norte-americano a transformação da sua visão em notícia, em troca do acesso dos meios de comunicação social ao teatro de guerra (com todo o cenário de possíveis imagens chocantes que lhes garantissem as maiores audiências possíveis). Mais tarde, o mesmo tipo de estratégia foi utilizado na cobertura jornalística de algumas manifestações anti-globalização.

Em Portugal, algumas peças escritas ao longo dos últimos anos (quase sempre pela mesma pessoa) pareceam indiciar a prática de um jornalismo um tanto ou quanto idêntico, pautado por uma escolha bastante selectiva de fontes.

O cariz do e-mail enviado pelo relações públicas da PSP Paulo Flor a um conjunto de jornalistas, «caros amigos de jornada», ou resulta de um erro crasso (a juntar aos outros erros cometidos ultimamente) ou é fruto de um erro não tão crasso quanto isso. Quer se trate de zangas entre comadres, quer de um contacto a mais no e-mail enviado, o caso não deixa de evidenciar um certo «à vontade» na relação entre a PSP e os meios de comunicação social. Ao ponto do agente da PSP realçar a importância do contributo jornalístico, definido como "essencial para que as medidas de coacção sejam o mais lesivas possíveis para os suspeitos". Por outras palavras, existe a possibilidade de este não constituir nem o primeiro, nem o segundo, nem o terceiro contacto do género travado entre Dona Flor e os seus diversos maridos.

Como tal, a vergonha não recai apenas sobre Paulo Flor, mas sobre todos aqueles que receberam o e-mail e permaneceram calados.

Madonna, são cada vez menos as razões que temos para celebrar



Dizias tu que «To release the pressure, We need a holiday», mas já viste isto

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Há 50 anos, o pintor morreu

Uma espécie?

le freak c'est chic

O nosso mui estimado e, porventura, único leitor apela ao voto no unipoppers para blogue revelação de 2011. Nós agradecemos a sugestão, mas o nosso radicalismo pequeno-burguês de fachada socialista leva-nos a rejeitar terminantemente essa sugestão. Em primeiro lugar porque não acreditamos em distinções, hierarquias, ou nos princípios da meritocracia dominante. Em segundo lugar porque mantemos uma desconfiança etnográfica em relação ao costume do voto que, como a história nos tem ensinado, é um procedimento político que trata do inalterável, naturaliza o imobilismo e o princípio da homogeneidade. Dito isto, embora sejamos fiéis ao postulado de que as decisões reais são estranhas ao voto e hostis aos interesses estabelecidos, apelamos, por cortesia pequeno-burguesa e uma pequena traição aos axiomas que orientam a nossa acção política, que votem no blogue 5 dias para melhor blogue do ano, embora toda a nossa simpatia vá para o Spectrum, que é uma espécie de versão menos chique do unipoppers, mas igualmente cheia de savoir-faire. Por falar em chique e radicalismo pequeno-burguês, eis o nosso auto-retrato sobre transístor molhado:

domingo, 18 de dezembro de 2011

não pagamos



A partir de 1 de Janeiro de 2012 começa já um Boicote ao Pagamento de Transportes Públicos. Os objectivo deste boicote são:

» Continuação dos passes 4_18, sub23 e sénior.
» Anulação dos aumentos tarifais de Agosto.
» Continuação de todas as carreiras e horários/ não à supressão.

O boicote consiste em ocupar os transportes públicos sem validar, sem comprar títulos de viagem, sem pagar mensalidades e sem pagar multas. Estratégias como fugir à fiscalização, fornecer moradas falsas no momento do auto e protelar indefinidamente o pagamento das multas são formas de desobediência pacífica e aceitáveis.

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domingo, 11 de dezembro de 2011

A inevitável greve de 24 de Novembro


É bem possível que nunca uma greve geral tenha sido tão previsível como a que teve lugar em Portugal a 24 de Novembro de 2011. Exactamente um ano após a última greve geral – cujos cartazes e faixas puderam até ser reutilizados, no contexto da “difícil situação que o país atravessa” –, tivemos direito a uma espécie de repetição, agora com novo governo, nova austeridade, novas “medidas gravosas para os trabalhadores e as camadas mais desprotegidas da população”, somadas apenas a mais raiva e a mais angústia. Desta vez, assinale-se, até as confederações patronais e os partidos de direita afirmaram “compreender” as razões dos grevistas e do seu desagrado, com a despreocupação de quem sabe estar tudo previamente decidido noutras instâncias e a convicção de que, após os protestos habituais das pessoas de sempre, o marfim continuará a correr. [...]

Nunca foram tão frequentes as alusões à conveniência técnica e política de suspender (temporária ou permanentemente) a democracia e este ou aquele direito que emperra excessivamente a engrenagem da austeridade. Toda esta gente, que conduz (?) neste momento o saque organizado a que foi submetida a classe trabalhadora portuguesa, sabe e teme que o pior ainda está para vir. A sua maior preocupação é que a crescente consciência de que não é possível travar esta ofensiva com passeatas e protestos cívicos se materialize em escolhas e actos por parte de quem se organiza para resistir. Procuram criminalizar preventivamente as posições, análises e discursos que defendem semelhantes pontos de vista, na idiota ilusão de que o conflito social pode ser convertido num caso de polícia. Nos próximos meses se verá até que ponto estão dispostas a ir, uma e outra parte deste afrontamento, que promete ter chegado para ficar. A este inverno suceder-se-á outro e depois mais outro. Tudo indica que as coisas estejam prestes a aquecer e não é preciso ser um meteorologista para perceber para que lado sopra o vento.
O resto do texto que escrevi acerca da greve geral está disponível no Passa Palavra.


sábado, 10 de dezembro de 2011

Doutor Honoris Náusea para um ex-ministro das colónias

Consta que a Universidade do Mindelo decidiu atribuir o título honoris causa a Adriano Moreira, tido como um dos «delfins» de Salazar e Ministro do Ultramar entre 1961 e 1962. Em tempos de amnésia histórica o enterro de passados inconvenientes tornou-se uma obsessão daqueles que pretendem ter uma biografia imaculada. É o caso de Adriano Moreira, que em livros e entrevistas – com destaque para as conversas de família com Mário Crespo, um conhecido promotor de saraus televisivos subordinados ao tema do «saudosismo colonial» – tem reduzido a sua acção governativa a uma nota de rodapé.
Segundo a lenda, Adriano Moreira procurou reformar o colonialismo, dando-lhe um toque humanitário, vulgo luso-tropicalismo touch, que naturalizava a ideia de uma vocação ecuménica do colonialismo português e oferecia aos portugueses o título dos colonizadores mais benevolentes e fraternos. Sem ceder um milímetro às reivindicações anticolonialistas, Adriano Moreira imprimiu um conjunto de reformas legislativas, entre as quais a abolição do estatuto do indigenato, que lhe deram a fama de governante reformista après-la-lettre. Mas esta aura de reformista dificilmente subsiste quando se descobre que foi Adriano Moreira quem mandou reabrir o campo de concentração do Tarrafal, eufemisticamente renomeado de «bom-chão»; ou promoveu a criação de um corpo de voluntários paramilitar em Angola, uma milícia branca que perseguiu centenas militantes nacionalistas nos musseques de Luanda.
Nesta reconfiguração histórica do colonialismo, devidamente apadrinhada por um título académico, tal como a universidade portuguesa agraciou Gilberto Freyre quando este serviu o colonialismo português, até o putativo reformismo é um argumento frouxo. Um reformismo que, salvaguardando as devidas distâncias, e são muitas, se assemelha às «reformas estruturais» que nos tolhem. Ou não fossem estas as múltiplas faces do reformismo que, ontem como hoje, sequestram a política e colonizam a vida das pessoas.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Primeiro são os anarquistas

Os agentes da ordem procuram criar a sua própria necessidade e, por vezes, fazem-no deliberadamente. Parece ser o que procurou fazer a polícia portuguesa, que introduziu agentes provocadores nas manifestações de 15 de Outubro e 24 de Novembro. Disfarçados de manifestantes, os agentes terão procurado criar uma situação de conflito com os polícias que não estavam à paisana, como se já não existissem motivos de sobra para que o conflito ecluda.


Hoje conhecemos este episódio devido à investigação realizada por militantes, activistas e outros transeuntes que participaram nas manifestações. O trabalho deste jornalismo informal constitui um pequeno grão na engrenagem, mas é preciso mais. Porque este não é apenas um episódio casual, mas o reflexo de um certo missionarismo ideológico assumido pelas chefias da polícia nos últimos anos. Na verdade, com maior ou menor consciência, e com ênfase após o 11 de Setembro, a polícia tem assumido, em certas circunstâncias, a pretexto do combate ao terrorismo, desígnios políticos claros: quando um porta-voz da polícia fala de apreensão de propaganda anarquista, é a fronteira entra uma polícia e uma polícia política que esmorece à nossa frente.


Não pretendo agitar velhos fantasmas. E não desvalorizo, por um dia que seja, a diferença entre democracias e fascismos, tão arduamente estabelecida nas lutas políticas do século XX. Mas se há diferenças abruptas entre democracia e fascismo, não existem fronteiras assim tão claras entre Estado democrático e Estado fascista. Importa não ignorar as continuidades entre a força policial de um Estado democrático e a de um Estado ditatorial. Olhamos para a história dos anos 60 e vemos como o Estado francês que matava argelinos em Paris partilhava o seu saber com o Estado Novo português. E hoje olhamos para a acção policial do Estado português e, de escutas ilegais em processos badalados até ataques à paisana contra cidadãos anónimos, somam-se motivos para alarme.


Os partidos políticos podem, é claro, julgar que não há motivos para alarme. Eles beneficiam, na verdade, de um estatuto político (a inefável “classe política”) que lhes é reconhecido na medida em que é negado aos restantes cidadãos. Deste modo, não correm tantos riscos de ver a sua ideologia criminalizada. Mas partidos como o PCP, nomeadamente, sabem bem que, se o anarquista é o primeiro a ser criminalizado, então, muito provavelmente, o segundo será o comunista. Os famigerados “serviços de ordem” do PCP, que têm colaborado com a polícia na identificação de manifestantes tidos como radicais, faziam por isso melhor se doravante se dedicassem a actividades de gosto menos duvidoso.


A criminalização do anarquista, na verdade, é um processo que tem acontecido sob a indiferença generalizada. E, muitas vezes, é incrementada além da própria polícia. Veja-se nomeadamente o caso do antropólogo José Manuel Anes, director do Observatório de Segurança. É bem a imagem do futuro que nos espera se não arrepiarmos caminho. Em reacção à actuação policial no dia da greve, comentou que a polícia deve respeitar a lei, mas também ser eficaz, como se o simples facto de existir uma polícia à margem da lei não configurasse de imediato uma situação de ilegalidade. Este já é o tempo das pequenas ditaduras, do elogio da ilegalidade policial por Anes à defesa de um policiamento da informação por João Duque.


São apenas anarquistas, dir-me-ão, de entre vocês, os menos anarquistas, mas, para quem não encontra motivo para se inquietar com o mal dos outros, recordo pelo menos a lição de Niemöller celebrizada por Brecht: “Quando os nazis levaram os comunistas, não protestei, porque, afinal, eu não era comunista. Quando levaram os social-democratas, não protestei, porque, afinal, eu não era social-democrata. Quando levaram os sindicalistas, não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista. Quando levaram os judeus, não protestei, porque, afinal, eu não era judeu. Quando me levaram a mim, já não havia ninguém que protestasse.”


O meu artigo desta semana no i

É tudo flagrante

Comum; qual comum?

Christian Marazzi - Entrevista

En este contexto macroregional y mundial, ¿qué papel y qué sentido tienen esas políticas nacionales basadas en el rigor? En Italia, el paso del Gobierno de Berlusconi a Monti y su equipo de"técnicos" ha suscitado mucha expectativa, como si de ello dependiera no sólo la recuperación de la credibilidad sino también un poder efectivo de intervención en la dinámica del mercado. Sin embargo, ¿cuánta eficacia pueden tener esos “sacrificios” en la crisis de deuda soberana y en la consiguiente especulación? 
No es así como se sale de la crisis, y de hecho no lo lograremos: el horizonte de los años venideros es la recesión. La política de austeridad tiene un efecto deflacionario de compresión de la demanda interna, que no cabe esperar compensar con exportaciones. Sin embargo, la política de austeridad es la única que contempla la doctrina neoliberal, que impera todavia en Europa y en Occidente y que es dura de veras. Ahí sigue y seguirá esa política mientras se mantenga ese Estado de emergencia, o, para usar el término de de Naomi Klein de economia del shock, ya que permite hacer lo que en una situación normal no se puede: compresión de los salarios, reducción del empleo público, debilitamiento de los sindicatos, la dichosa carnicería social. Es la lógica de la gobernanza de la crisis: una regulación técnica y tecnocrática de las relaciones sociales en el Estado de emergencia. El Viceprimer ministro chino lo dijo bien en una entrevista al Financial Times: lo que nos espera es una nueva Edad Media, financiera y social.

¿Con qué características políticas, antropológicas y políticas? Tú nunca hablas solo de economía...
Algunos procesos son ya evidentes. El primero es la precarización de la Constitución. El segundo -trataste de ello tú también a propósito del paso de gobierno [de Berlusconi] a Monti- es la eliminación de la autonomía de lo político en el Estado de excepción. La tercera es la transición del Estado de bienestar al Estado de la deuda: un Estado en el que lo social es y se representa en forma de deuda, y se regula y se rige bajo el signo de la deuda. O mejor: de la deuda y de la culpa, conforme al doble sentido de la palabra alemana "Schuld": tema nietzscheano, que ahora vuelve a estar de actualidad, como en el excelente libro de Maurizio Lazzarato, La fabrique de l'homme endetté. La deuda como dispositivo antropológico de autodisciplina del hombre neoliberal.

Está clarísimo, a juzgar por lo que está ocurriendo en Italia, donde de pronto hemos pasado de la ética del gozo del ventenio berlusconiano a la ética de la penitencia del gobierno Monti. ¿Cuánto crees que puede durar este dispositivo? ¿El sujeto neoliberal descrito por Foucault, el empresario hecho a sí mismo que se alimentaba de consumo endeudándose puede ahora alimentarse de sentido de culpa por las deudas contraídas? ¿Se trata de un desarrollo o de una crisis de la ética neoliberal? 
Por ahora, veo que esa ética se ha hecho realidad: el neoliberalismo se ve realizado en esencia en cuanto fábrica del hombre endeudado. El empresario hecho a sí mismo produce su deuda, que ahora lo disciplina mediante un dispositivo de culpabilización. Por lo demás, aquí se da una verificación de la esencia del dinero: el dinero es deuda, la financiarización del capital nos ha transformado a seres deudores, y el valor lo produce en negativo una máquina depresiva.

Sin embargo, hay quien se indigna, no está de acuerdo, y se rebela. Por suerte. ¿Qué piensas de los indignados y de Occupy Wall Street?
Para mantenernos en la estela de Foucault, éste habría dicho que los Indignados son un movimiento parrhesiasta: un movimiento de personas que dicen la verdad. Denuncian la hipocresía de los mercados; desvelan que toda deuda es "odiosa", ilegítima, fruto de la renta y la expropiación; y declaran que esta crisis la han causado los bancos y no podemos pagarla nosotros, lo que significa afirmar la verdad desde el punto de vista de la gente y no del mercado. Luego, el movimiento de Madrid ha trabajado como un espacio de democracia absoluta, como una gran asamblea constituyente de lo común basada en el principio de la convivencia en el espacio público: una suerte de vuelco de la ética del miedo hobbesiano, en el que me parece bien visible la huella femenina de la práctica en las relaciones y de una economía del cuidado que se convierte en ecología política. El crecimiento del movimiento a escala europea es el único antídoto para el proceso de deseuropeización del que hablábamos al principio. Pero el empuje constituyente ha de darse también en formas de autodeterminación local concretas. Para romper el dispositivo cardinal del postfordismo, la explotación de los saberes, el conocimiento y las relaciones, no hay otro modo sino convertirlo en producción de lo común, ahora más si cabe ya que la política de austeridad conllevará más privatizaciones, vender y mal vender bienes comunes desde el agua al patrimonio cultural. Pero producir lo común significa organizarse a nivel local, prepararse para gestionar en los barrios el agua, la electricidad, el transporte, los propios bancos.

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domingo, 4 de dezembro de 2011

Apologia de Sócrates



Sócrates, o capitão da democracia corinthiana (1954-2011). Morou na filosofia, praticou a igualdade. Que o levezinho logo lhe dedique o título (Via última roulote, o melhor blogue da cidade e arredores).