sábado, 10 de dezembro de 2011

Doutor Honoris Náusea para um ex-ministro das colónias

Consta que a Universidade do Mindelo decidiu atribuir o título honoris causa a Adriano Moreira, tido como um dos «delfins» de Salazar e Ministro do Ultramar entre 1961 e 1962. Em tempos de amnésia histórica o enterro de passados inconvenientes tornou-se uma obsessão daqueles que pretendem ter uma biografia imaculada. É o caso de Adriano Moreira, que em livros e entrevistas – com destaque para as conversas de família com Mário Crespo, um conhecido promotor de saraus televisivos subordinados ao tema do «saudosismo colonial» – tem reduzido a sua acção governativa a uma nota de rodapé.
Segundo a lenda, Adriano Moreira procurou reformar o colonialismo, dando-lhe um toque humanitário, vulgo luso-tropicalismo touch, que naturalizava a ideia de uma vocação ecuménica do colonialismo português e oferecia aos portugueses o título dos colonizadores mais benevolentes e fraternos. Sem ceder um milímetro às reivindicações anticolonialistas, Adriano Moreira imprimiu um conjunto de reformas legislativas, entre as quais a abolição do estatuto do indigenato, que lhe deram a fama de governante reformista après-la-lettre. Mas esta aura de reformista dificilmente subsiste quando se descobre que foi Adriano Moreira quem mandou reabrir o campo de concentração do Tarrafal, eufemisticamente renomeado de «bom-chão»; ou promoveu a criação de um corpo de voluntários paramilitar em Angola, uma milícia branca que perseguiu centenas militantes nacionalistas nos musseques de Luanda.
Nesta reconfiguração histórica do colonialismo, devidamente apadrinhada por um título académico, tal como a universidade portuguesa agraciou Gilberto Freyre quando este serviu o colonialismo português, até o putativo reformismo é um argumento frouxo. Um reformismo que, salvaguardando as devidas distâncias, e são muitas, se assemelha às «reformas estruturais» que nos tolhem. Ou não fossem estas as múltiplas faces do reformismo que, ontem como hoje, sequestram a política e colonizam a vida das pessoas.

Ventura e Lento escutam a canção de «Os Tubarões», «Labanta Braço»

Labanta braço se bô grita bô liberdade
Grita povo independanti
Grita povo liberdado
Cinco di Julho sinonimo di liberdadi
Cinco di Julho caminho aberta pa flicidadi
Grita "viva Cabral"
Honra combatentes di nos terra

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