Há pessoas que possuem um jeito especial de caminhar, com uma das pernas sempre disponível para rasteirar a outra. Em alguns casos, é fruto de um problema de motricidade, o que não é muito engraçado, por certo. Em outros casos, porém, parece ser, pura e simplesmente, o efeito de um problema com as ideias, nomeadamente a impossibilidade de uma sua utilização que respeite minimamente as regras da gravidade. Vem isto a propósito do seguinte. Depois da crítica de Irene Pimentel à acampada do Rossio, pontuada com uma referência ao suposto mau cheiro da dita acampada, pensei que já não fosse possível encontrar um exercício intelectual tão sofisticado sobre o mesmo tema, mas eis que hoje, no Público, a Helena Matos equipara a presença de pessoas com rastas na acampada do Rossio à eventual futura presença de pessoas com suásticas numa eventual futura acampada. Ou seja, lembrou-se a cronista de invocar o nazismo, que interditava o direito à cidade com base nos atributos físicos da população, para assinalar politicamente atributos físicos da população. Que dizermos? Talvez que um dos problemas dos nossos liberais da direita (embora não só destes) seja o facto de não raramente subirem ao nível do mais rasteiro conservadorismo. A alternativa é estarem efectivamente empenhados em fazer lei do corte de cabelo à Helena Matos.
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