As notas que se seguem prolongam um debate conjunto. Seguem algumas pistas deixadas em aberto na reunião/debate do passado domingo, organizada pela Unipop, em colaboração com o C.E.M., no Seu Vicente – Residências artísticas.
É claro – sendo esse um dos pontos de partida da discussão proposta – que só é possível pensar a precariedade do cognitariado e a possibilidade de combatê-la tendo em consideração as condições específicas a que estão hoje sujeitos os agentes da produção imaterial, investigadores, bolseiros ou não, professores, mais ou menos intermitentemente, artistas, etc. (flexibilidade, mobilidade, intermitência...).
Acrescentaria no entanto que se faz sentido pensar especificamente a política do cognitariado – nomeadamente, tendo em vista a criação de laços de entendimento, de solidariedade, de eventual acção conjunto (reivindicativa, mas não só) – faz talvez sentido alargar a compreensão desta especificidade, do reconhecimento daquilo que partilham os produtores imateriais no que toca às condições a que estão sujeitos, ao reconhecimento das forças que intervêm no seio da produção imaterial (que abrange, nomeadamente, as áreas da investigação e da produção artística).
Considerar estas duas vertentes dessa especificidade, o «quadro» e o «teor», se quisermos, da produção imaterial – sem complexos ou superstições na articulação de conceitos sociopolíticos e estéticos – seria talvez vantajoso para fazer face ao pressentimento desencorajante que poderá assaltar um investigador, um artista, de que o seu trabalho – enquanto investigador, enquanto artista – nada tem a ver com as preocupações que partilha com outros agentes de produção imaterial sujeitos a semelhantes condições de trabalho. Creio que um tal pressentimento, e o desânimo que o acompanha, pode e deve ser desconstruído. Que, para tal, trabalho possa significar coisas distintas (ou que num dos casos se deva escolher outra palavra) não nos deve assustar.
Por outras palavras, diria que os laços que unem os produtores imateriais não concernem apenas àquilo que nos torna precários, mas também ao modo como o que já fazemos, cada um de nós, pode animar o que podemos fazer, em conjunto, contra essa precarização.
Ola eu sou Ibon, nao consegui me acercar a esse encontro já que estaba a trabalhar até tarde. Ha alguma coisa em teu texto que de certa maneira incomoda-me e nao sei se é mesmo tua intençao. Enquanto falamos de agentes de produçao inmaterial, e clasificamos algums de seus nomes mais representativos, sendo estes artistas, investigadores, etc. pareceme que esquecemos o cerne do problema que se apresenta na atualidade. A questao principal nao sería aqui revalorizar esses lugares da produçao inmaterial, e achar soluçoes para melhorar certa precariedade emergente no campo da professionalizaçao produtiva da area da cultura (arte, investigaçao...), a meu ver esse nao seria o problema. O problema radica na populaçao em geral, no humano, nao faz respeito a um grupo de estes ou daqueles, o que esta sendo posto em jogo sao os espaços vitais que dizem respeito a uma vida nao meramente produtiva, a uma praxis que nao derivaria em um produto o em um resultado, a uma das caracteristicas do humano que nos faz mais humano, que é precisamente a geraçao (jogo, practica) constante do campo inmaterial (inutíl) no qual se gesta a politica como campo de convivio. Acho eu que o imaterial (invisivel que ainda nao e del tudo visivel e aparece em piscares de olhos) nao é meramente producido mas gera-se, aparece precisamente na pratica nao produtiva, acontecendo em lugares tao inesperados como o tedio e até a precariedade. Um Abraço,
ResponderEliminarIbon Salvador
Olá Ibon, pena não termos tido oportunidade de conversar na reunião. Estou completamente de acordo contigo em relação à necessidade de enfrentar o problema da precariedade em termos globais (e nunca valorizando esta ou aquela franja da produção – imaterial ou não), e também, genericamente, em relação ao modo transversal como vês o campo da “produção” imaterial (pondo o acento numa certa inutilidade, num gerar independente de produzir objectos). Se chamo a atenção para a especificidade de algumas destas actividades, não o faço nem por achar que elas só são realizadas por pessoas ligadas à investigação ou à arte, nem por lhes pretender atribuir um prestígio que as tornasse mais merecedoras de atenção no combate contra a precariedade, mas apenas por, em muitas delas, poderem estar em jogo afinidades tão determinantes com uma política emancipatória que se torna urgente desconstruir o aparente fosso entre o carácter singular (e às vezes solitário) destas actividades e a possibilidade (em nada contrária àquela singularidade) de gerar laços de entendimento e acção colectivos. Obrigado pelo teu comentário. Um abraço, João Pedro
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