segunda-feira, 9 de abril de 2012

De olhos bem abertos

 
Encontrava-se o país posto em sossego, desfrutando a Páscoa sob o olhar severo dos “mercados”, quando Passos deixou escapar mais um coelho da cartola, admitindo, numa entrevista a um jornal alemão, a possibilidade de adiar o regresso ao mercado da dívida soberana para além do prazo acordado com a troika.
A oposição fez questão de reagir enquanto tal (na defraudada expectativa, porventura, de se encontrar perante um governo e não uma administração de condomínio com problemas de tesouraria), lembrando que o primeiro-ministro não tem o hábito de abrir desta forma o coração no parlamento, onde ainda recentemente garantiu que tudo corria pelo melhor.
A gestão do incidente ficou a cargo do ubíquo Miguel Relvas, que se veio queixar do “ruído” produzido pela ala esquerda do hemiciclo. Trata-se de uma ponderada escolha de palavras. Podem-se debater argumentos diferentes e porventura até opostos, mas o ruído limita-se a perturbar a tranquilidade pública, impedindo-nos de escutar as gloriosas sinfonias da competitividade. Bem pode a oposição multiplicar--se em estupefacta indignação, que Relvas não está nem aí.
A divisão do trabalho dentro do governo é apesar de tudo simples: Gaspar pede dinheiro em Bruxelas (fazendo o mínimo ruído possível), Passos Coelho diz “lá fora” aquilo que nós nunca conseguiremos entender, Assunção Cristas invoca a chuva com sortilégios democrato-cristãos e Miguel Relvas ocupa-se do ruído.
Quando o volume deste aumenta ao ponto de se tornar visível, entra em cena Miguel Macedo. O ministro da Administração Interna tem andado, como é sabido, de olhos bem abertos.

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