Encontrava-se o país posto em sossego, desfrutando a Páscoa sob o olhar  severo dos “mercados”, quando Passos deixou escapar mais um coelho da  cartola, admitindo, numa entrevista a um jornal alemão, a possibilidade  de adiar o regresso ao mercado da dívida soberana para além do prazo  acordado com a troika.
  A oposição fez questão de reagir enquanto tal (na defraudada  expectativa, porventura, de se encontrar perante um governo e não uma  administração de condomínio com problemas de tesouraria), lembrando que o  primeiro-ministro não tem o hábito de abrir desta forma o coração no  parlamento, onde ainda recentemente garantiu que tudo corria pelo  melhor.
  A gestão do incidente ficou a cargo do ubíquo Miguel Relvas, que se  veio queixar do “ruído” produzido pela ala esquerda do hemiciclo.  Trata-se de uma ponderada escolha de palavras. Podem-se debater  argumentos diferentes e porventura até opostos, mas o ruído limita-se a  perturbar a tranquilidade pública, impedindo-nos de escutar as gloriosas  sinfonias da competitividade. Bem pode a oposição multiplicar--se em  estupefacta indignação, que Relvas não está nem aí.
  A divisão do trabalho dentro do governo é apesar de tudo simples:  Gaspar pede dinheiro em Bruxelas (fazendo o mínimo ruído possível),  Passos Coelho diz “lá fora” aquilo que nós nunca conseguiremos entender,  Assunção Cristas invoca a chuva com sortilégios democrato-cristãos e  Miguel Relvas ocupa-se do ruído.
  Quando o volume deste aumenta ao ponto de se tornar visível, entra em  cena Miguel Macedo. O ministro da Administração Interna tem andado, como  é sabido, de olhos bem abertos.

 
 
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