segunda-feira, 2 de abril de 2012


Ao sexto dia, a PSP veio finalmente esclarecer o que se passou afinal na esquina da Rua Garrett com a Serpa Pinto, ao Chiado, no dia da greve geral, pela mui solícita pena de Valentina Marcelina, jornalista do “Diário de Notícias” nas horas vagas e escritora de policiais negros por profissão. Espécie de porta-voz oficiosa da PSP, Valentina há já alguns anos vem relatando aos seus leitores o heroísmo com que a polícia combate sucessivas conspirações anarquistas contra a ordem estabelecida.
Foi ela que relatou, em vésperas da Cimeira da NATO, a detenção na fronteira de um casal espanhol “suspeito de pertencer ao black block”. O casal terá negado tudo, mas viu-se incapaz de desmentir o que as provas materiais evidenciavam: traziam na mala roupas pretas, um indesmentível sinal dos seus tenebrosos intentos.
É agora a vez do SIS (“a inteligência”) pagar a fava, por ter apresentado à PSP um relatório “alarmista” que previa diversas catástrofes para o dia da greve, entre as quais uma manifestação de ciclistas e paletes de perigosos subversivos armados, garante Valentina, com tampas de panelas e sprays de tinta (há limites para o que se pode fazer apenas com roupas pretas). Sendo o texto “confidencial”, ficámos a saber apenas o que era conveniente que ficássemos a saber, ou seja, que a PSP terá espancado quem encontrou pela frente por causa da secreta. Foram as más companhias…
Ainda viremos a ter saudades do tempo em que nos garantiam que a culpa era toda dos anarquistas. Sendo igualmente delirante, era menos insultuoso para a nossa inteligência.

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