segunda-feira, 23 de abril de 2012

Abril de novo


As imagens e relatos que nos chegaram do Alto da Fontinha, na antiga, mui nobre, sempre leal e invicta cidade do Porto, reafirmam o estado de excepção em que vivemos.
A polícia voltou a espalhar democracia, desta vez com direito a livros e material diverso empilhado num pátio, à espera de um purificador auto de fé, juntamente com uma esclarecedora apreensão de câmaras de filmar e fotografar, para que a grotesca face da repressão não surgisse em toda a sua bestialidade. Parece não ser ainda oportuno autorizar a eliminação de testemunhas oculares, algo com que os fantásticos juristas pátrios se poderão entreter num futuro próximo. Aguardemos pelos próximos relatórios do SIS para descobrir que inconfessáveis crimes se preparavam para cometer os ocupantes.
Espaços como a Es.Col.A, subtraídos ao abandono e à voragem da especulação imobiliária, onde existe a possibilidade de organizar actividades gratuitas e desenvolver uma sociabilidade fora da esfera do mercado, são um alvo óbvio para quem odeia a perigosa combinação entre liberdade e auto-organização em meios populares. Esta gente pobre a quem se procura fazer engolir, com cassetetes e mentiras várias, o pão amargo da austeridade, poderia sentir-se contagiada por semelhante desaforo e lembrar-se de coisas tão simples como a Revolução que, ainda não há 38 anos, fez tremer os gordurosos senhores desta terra.  A resposta ao desalojo selvagem decretado por Rui Rio é simples e segue dentro de momentos. Ao fim e ao cabo, também foi para isso que se fez o 25 de Abril.

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