As imagens e relatos que nos chegaram do Alto da Fontinha, na antiga,
mui nobre, sempre leal e invicta cidade do Porto, reafirmam o estado de
excepção em que vivemos.
A polícia voltou a espalhar democracia, desta vez com direito a
livros e material diverso empilhado num pátio, à espera de um
purificador auto de fé, juntamente com uma esclarecedora apreensão de
câmaras de filmar e fotografar, para que a grotesca face da repressão
não surgisse em toda a sua bestialidade. Parece não ser ainda oportuno
autorizar a eliminação de testemunhas oculares, algo com que os
fantásticos juristas pátrios se poderão entreter num futuro próximo.
Aguardemos pelos próximos relatórios do SIS para descobrir que
inconfessáveis crimes se preparavam para cometer os ocupantes.
Espaços como a Es.Col.A, subtraídos ao abandono e à voragem da
especulação imobiliária, onde existe a possibilidade de organizar
actividades gratuitas e desenvolver uma sociabilidade fora da esfera do
mercado, são um alvo óbvio para quem odeia a perigosa combinação entre
liberdade e auto-organização em meios populares. Esta gente pobre a quem
se procura fazer engolir, com cassetetes e mentiras várias, o pão
amargo da austeridade, poderia sentir-se contagiada por semelhante
desaforo e lembrar-se de coisas tão simples como a Revolução que, ainda
não há 38 anos, fez tremer os gordurosos senhores desta terra. A
resposta ao desalojo selvagem decretado por Rui Rio é simples e segue
dentro de momentos. Ao fim e ao cabo, também foi para isso que se fez o
25 de Abril.
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