Carta aberta aos que condenam as pilhagens V
5. Não têm o direito de fazer isto. Não é assim que se protesta.
É claro que não têm o direito de fazer isto. É por essa mesma razão que isto não é um protesto.
É claro que não têm o direito de fazer isto. É por essa mesma razão que isto não é um protesto.
Um protesto é aquilo que se tem o direito de fazer. É aquilo que se reconhece mal se vê e se esquece mal desaparece do nosso campo de visão imediato.
Porventura o pior artigo da vossa fé, a bílis mais densa na vossa língua, é terem agora a lata de sugerir 1) que há algumas preocupações legítimas por detrás disto 2) que, nas palavras de Tim Godwin (Comissário Interino da Polícia Metropolitana), "estas são conversas que nós precisamos de encetar, mas não servem de desculpa para o que está a decorrer", 3) que os motins não vão fazer com que essas conversas ocorram e 4) que as pessoas deviam regressar a casa para que essas conversas comecem, com a garantia (e a reprimenda) de que se tivessem seguido os trâmites previstos para dar voz à sua opinião – o voto, as assembleias comunitárias, as marchas autorizadas, as campanhas por carta – então aqueles que detêm o poder para melhorar materialmente essas situações teriam todo o gosto em fazer o possível para que isso acontecesse.
Afirmar simultaneamente que este tumulto não é a via certa para que as pessoas sejam ouvidas e encorajar as pessoas a voltar às maneiras de dar voz à raiva que vocês demonstraram, na prática e ao longo das últimas décadas, não estar minimamente interessados em ouvir, é dizer-lhes directa e inequivocamente que eles eram mudos até ao momento. Que não há qualquer forma de articularem uma posição de modo a que seja reconhecida ou levada em conta.
(Dizer, como alguns de vocês dizem, que estes incidentes infelizes mostram que todos nós devemos ouvir com mais atenção é admitir - aaah! - que a desordem violenta chama de facto a atenção. Mas seguramente que é não isso que vocês estão a dizer, ou a pensar...)
Contudo, e infelizmente para vocês, um motim não é uma forma de linguagem. Não é, em particular, uma forma muito persuasiva. Não está a tentar provar um argumento ou conquistar a vossa aprovação. Sai da frustração de bocas que, tendo em conta o quanto são ouvidos, poderiam bem ter arrancado a língua. Mas não é um discurso. Está perfeitamente farto de saber aonde é que isso leva.
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