sexta-feira, 22 de julho de 2011

Unipoppers à escuta - Passa Palavra


Além de ser um reflexo da crise financeira mais geral da União Europeia (ela própria resultante de se ter avançado com uma moeda única, o euro, antes de haver qualquer vislumbre de políticas externa e interna únicas, e por isso mesmo sendo a UE regida por um domínio informal dos países europeus com burguesias e bancos mais fortes, como a Alemanha e a França), a crise específica que se vive em Portugal tem características locais próprias que resultam da fraca evolução e modernização do capitalismo português nestes 37 anos de democracia parlamentar. É uma crise de produtividade resultante, em primeiro lugar, da secular tendência parasitária da classe empresarial portuguesa, oportunista e habituada a encostar-se ao poder do Estado, e sobretudo inculta e incompetente, se comparada com as suas congéneres da restante Europa, excepto talvez a grega – um estudo recente mostra que 75% dos empresários portugueses não concluiu o nível de estudos secundários. A integração deste país (formalizada em 1985) numa Europa muito mais desenvolvida, canalizados os enormes “fundos de coesão” recebidos para a constituição rápida e improdutiva de novas fortunas, paulatinamente liquidadas as actividades económicas básicas de auto-subsistência (agricultura e pescas) que poderiam conter a sua crescente dependência do exterior, transformou Portugal num país de tasqueiros (turismo) e de empreiteiros (construção civil). O turismo tem crescido à custa de uma força de trabalho pouco qualificada, sazonal e precária, e o seu desenvolvimento não foi orientado por políticas urbanas e de gestão de solos de longo prazo, mas por sistemáticas jogadas de curto alcance e enriquecimento fácil. A construção civil (incluindo uma plétora absurda de obras públicas, sobretudo auto-estradas) cresceu no essencial à custa da força de trabalho de mais de meio milhão de emigrantes africanos e leste-europeus. Betão [concreto] e serviços – além do mais, dois campos férteis para o alastramento da corrupção. 
É essa classe que, através dos dois partidos dominantes, PS e PSD, tem dominado Portugal nos últimos decénios. É ela que, agora, está sendo escrutinada pelo frio e mais exigente capitalismo do norte da Europa. 
Acampados, Colectivo Passa Palavra

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