Os meteorologistas, juntamente com outros especialistas nas coisas do tempo, disseram-nos que o verão de 1975 foi quente, os mais ousados chegaram a apelidá-lo de tórrido. Daqui a trinta anos os mesmos especialistas, ou os seus descendentes, talvez digam que a deslocação do anti-ciclone dos Açores para norte provocou uma súbita descida das temperaturas, quiçá provocada pelo vento que soprou forte a moderado acima do Cabo Carvoeiro.
A propósito do vento, os historiadores, esses sub-meteorologistas encartados para a prosa, sempre foram pródigos em metáforas sobre o vento. É ver as vezes que eles fizeram alusões aos «ventos da história» para descrever o derrube dos imperialismos em África e o desmoronar das ditaduras no sul da Europa. Outro tópico dilecto dos historiadores é o roubo, sobretudo quando ele era feito por bandidos sociais que agiam contra os inimigos principais dos pobres. Porém, a história encarregou-se de esculpir um novo tipo de bandido que, a pretexto de cuidar da saúde do Grande Outro (o Capital) e zelar para que ele continue a prosperar, veio trazer-nos uma violenta desforra social. Porque agora é verão, o novo bandido veio ao ritmo cha-cha-cha du loup infligir-nos pesadas medidas de austeridade. O objectivo é sugar-nos até ao tutano e consumar uma transferência massiva dos rendimentos do trabalho para o capital.
Um exemplo disso é o aumento de tarifas nos transportes públicos. Por exemplo, uma pessoa que venha de Almada, ou de Paço de Arcos, ou de Loures, e que utilize o passe L12, passa a pagar 55,55€ em vez dos 48,30€ anteriores. O passe L123 passa de 55€ para 63,25€. Quem utiliza o passe combinado Metro/CP – essa invenção dos administradores das empresas de transportes, sempre com um olho no lucro e outro na privatização – passa a pagar 49,95€ em vez de 43,45€. Com estes aumentos caminhamos a passos largos para o fim do passe social, que aliás aumenta mais do que um bilhete simples, além de estarmos a assistir a uma penalização generalizada de quem reside nas áreas suburbanas das grandes cidades. Não precisamos chamar o engenheiro Guterres para nos vir fazer as contas. Todos percebemos que este aumento é um ROUBO, desta feita efectuado por bandidos com gravata e capital que estão apostados em fazer do verão de 2011 o verão do nosso descontentamento.
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