quarta-feira, 13 de julho de 2011
O reino da empregabilidade: capital humano e empresas de trabalho temporário. 1) O «capital humano»
A relação entre trabalho e capital foi, desde sempre, marcada por alguma indeterminação: os trabalhadores nem sempre sabiam o que podiam esperar da empresa e esta, por sua vez, nem sempre sabia o que podia esperar dos trabalhadores. O Fordismo, tanto na sua dimensão económica, como também social e política, representou a tentativa de abolição dessa incerteza, presente em ambos os lados da contenda. De um lado, as empresas, através da organização científica do trabalho, garantiram a subordinação real do trabalhador à máquina produtiva e, por conseguinte, uma estimativa precisa da sua performance; e, em troca, mercê de um antagonismo manifesto, os operários vieram a obter um conjunto de direitos sociais, constitucionalmente consagrados.
No entanto, mais do que isso, o regime fordista constituiu o reconhecimento da necessidade de se encarar o trabalhador como parte da obra da empresa, tomando a sua vida como objecto de produção. Deste ponto de vista, e embora surja apenas em meados da década de 60, a ideia contida no conceito de «capital humano» encontra-se longe de poder ser enquadrada numa ordem de ideias pós-industrial ou pós-moderna.
Os desafios representados pela evolução do sistema de produção, crescentemente dependente de elevados níveis de cognição humana, exigem novos métodos de abolição da incerteza acima mencionada. O objectivo deste artigo é, a partir da análise de anúncios de emprego produzidos por empresas de trabalho temporário, compreender quais os critérios que devem orientar a autoprodução dos trabalhadores da nova economia.
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