quarta-feira, 2 de maio de 2012

Do supermercado enquanto espaço de conflito

Costumo fazer compras no Pingo Doce. Se a promoção fosse hoje, apenas não a aproveitaria por causa da confusão e, mais importante, porque a minha situação económica permite dispensar a adesão à campanha.

Algumas das análises produzidas em torno dos conflitos ontem verificados causam-me alguma perplexidade. Não percebo a suposta relação de incompatibilidade entre ir ao supermercado e participar na manifestação do 1.º de Maio, como se ambas se anulassem. Entre os milhares que ontem desfilaram na Almirante Reis (mais do que ano passado) certamente estariam pessoas que aproveitaram a sua manhã para ir às compras. Não se trata de consumismo, mas sim de fazer pela vida. 

Os conflitos entre consumidores do Pingo Doce são mais que ocasionais, constituindo uma herança do anterior regime legal. A proibição da abertura de hipermercados aos domingos e feriados levou algumas cadeias a reduzir as suas superfícies, garantindo assim o seu pleno funcionamento durante todos os dias da semana. A criação de espaços exíguos gerou, porém, dificuldades na mobilidade e na organização de filas, bem como aumentos do tempo de espera, ingredientes ideais para o bate-boca, o empurrão e a chapada. Imaginem tudo isto com o dobro ou triplo de pessoas…

Apesar de tudo, a afirmação do poder de cada um não se dirige apenas contra a pessoa do lado. Se o Pingo Doce recorre aos serviços da Polícia de Segurança Pública não será apenas por esta razão. De acordo com um estudo desenvolvido pelo Barómetro Anual Global do Furto no Retalho em 2009, os roubos em supermercados implicavam perdas no valor de 40 mil euros a cada hora que passava. Um valor que colocava Portugal nas primeiras posições do ranking e que nos permite observar a diversidade de relações de poder que se desenvolvem num espaço como um supermercado: relações de conflito e violência entre consumidores, entre estes e os trabalhadores de caixa, mas igualmente de cooperação entre os putos que tentam gamar qualquer coisa ou mesmo entre os putos e a trabalhadora de caixa, que, em violação da sua deontologia profissional, finge não reparar na obra dos meliantes. 

Algo que, dificilmente, poderá ser classificado como alienante ou conformista.

  

1 comentário:

  1. O PINGO DOCE FAZ DUMPING?
    O PINGO DOCE TEM LUCROS EXCESSIVOS?
    O PINGO DOCE ABUSA DOS TRABALHADORES?
    O PINGO DOCE PAGA MAL AOS PRODUTORES?
    O PINGO DOCE FAZ POLÍTICA NO 1º DE MAIO?
    O PINGO DOCE VEICULA UMA IDEOLOGIA FASCISTA?

    USUFRUEMOS…

    DEPOIS DESTE TREINO,

    NO 1º SÁBADO DE CADA MÊS, ENTREMOS E LEVEMOS TUDO DE BORLA!

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