Um dos panfletos distribuídos na manifestação de hoje:
Para nós, a história não está escrita. Queremos ver para lá do que nos é apresentado como o caminho inevitável, seja na versão mais pesada da austeridade e do punho forte do estado, seja na versão mais light dos orçamentos participativos e das petições legislativas. Numa hipótese ou noutra, a possibilidade das pessoas decidirem sobre os assuntos que lhes dizem respeito será uma miragem.
Recusamo-nos a encarar a actual crise com um ar perplexo. Se a imposição do pagamento de uma dívida ilegítima e a chantagem exercida por grandes grupos financeiros veio mostrar a nudez do rei, a verdade é que este há muito que se apresentava sem roupas. Para quem todos os dias trabalha sem papéis, sendo ainda sujeito a rusgas do SEF, a crise sempre existiu. Para quem ao longo dos últimos dez anos viu o seu rendimento lhe ser retirado, pela via da deslocalização e/ou da falência fraudulenta, a crise não é novidade. Para quem ao fim do mês é confrontado com as ameaças do banco ou da segurança social a crise faz parte da vida.
Inverter este cenário implica passar a precariedade para o adversário, transferindo-lhe todo o medo e insegurança associados. Fazer com que cada dia seja carregado por uma profunda incerteza. Levar a que se sinta constantemente observado. Obrigá-lo a cumprir horas extraordinárias. Aumentar-lhe a dose de anti-depressivos. Impor-lhe prejuízos. Para que, no fim, não tenha outra opção senão recuar.
Porque os direitos nunca foram concedidos, mas sempre arrancados à força.
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