terça-feira, 2 de agosto de 2011

Quem não teme o mar não teme os patrões


O abastecimento de Lisboa e de grande parte do país está hoje nas mãos de um poderoso grupo, em que se entrelaça, por meio de participações mútuas no capital, a Companhia Portuguesa de Pesca, a SNAPA, a Doca Pesca e a GELMAR. Possuem em conjunto frotas de dezenas de navios, estaleiros, fábricas de gelo, frigoríficos e uma grande rede de venda de peixe. O negócio é tão bom ou tão mau que o capital das empresas do Grupo tem estado a ser elevado sucessivamente e orça hoje pelos 750 mil contos. A Companhia Portuguesa de Pesca queixa-se de ter tido só dois mil contos de lucros no ano passado; mas distribuiu pelos administradores, em ordenados e gratificações, 2364 contos.
E quem está à testa do monopólio? O tubarão das pescas não era só Tenreiro, legionário. Esse foi preso e bem preso, mas os outros que não caíram na asneira de se fazerem legionários continuam a encher-se à custa dos pescadores e dos consumidores...
Controla do alto este negócio a família dos Quinas, através do Banco Borges & Irmão. O sector das pescas, como quase toda a economia nacional, está dominado pelo capital monopolista. A sua determinação cega em arranjar a máxima taxa de lucro, o seu poderio financeiro, as suas ligações e influências junto do Estado – tudo isso lhes permite manter uma férrea ditadura sobre os trabalhadores, mesmo depois de ter caído o fascismo. O fascismo são eles. [...] Mantendo a sua greve, os pescadores e tripulantes do arrasto não estão só a conquistar melhores condições de vida; estão a golpear o maior inimigo da classe operária – o capital monopolista.
A Voz do Povo, 13/08/1974

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