quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Música para metralhar ouvidos e incendiar corações

Como a música pop é um assunto demasiado sério para ser tratado num post de um dia de verão, sugiro que falemos de um estilo musical que se auto-propôs incendiar o planeta. Refiro-me à Fire Music, um termo cunhado pelo saxofonista Archie Shepp, que se tornou o cognome do Free Jazz. Nomes como Albert Ayler, Cecil Taylor, Frank Wright, Alan Silva, Peter Brotzmann, entre outros, são representativos dessa corrente, que se distinguiu por apresentar o lado mais abrasivo e incendiário do Jazz.

O Jazz em Agosto, que para gáudio da multidão já chegou à fundação do magnata arménio, apresenta anualmente o melhor que se faz no campo da «música transidiomática com vocação cósmica», como Jorge Lima Barreto a catalogou. Este ano não é excepção. Para além do trio Fire! de Mats Gustafsson, e da formação que junta as guitarras da banda punk The Ex a Ken Vandermark e Paal Nilssen Love, temos ainda o quarteto de Peter Brotzmann, «Hairy Bones», que promete calar os aviões que sobrevoarem o auditório ao ar livre à hora do concerto.

No tempo em que a música ainda não se tinha entregue à indulgência da retromania, Brotzmann & sus muchachos ousaram transpor o som das metralhadoras para música, gravando o álbum «MachineGun» (1968) . Um disco ruidoso, agressivo e vigoroso que é um verdadeiro assalto sónico para os ouvidos mais desprevenidos. Não admira que desde então Brotzmann tenha sido classificado de terrorista e comunista, insígnias que só abonam a favor da sua música catártica e revolucionária. Eis uma pequena amostra do poder dinamitador de Brotzmann a tocar o tema da dupla Brecht/Eisler, «United Front Song»




Para os menos formalistas e avessos à abstracção, fica aqui a letra da canção (em inglês, o esperanto dos nossos tempos, como a conjuntura o exige).

United Front Song
And because a man is human
He'll want to eat, and thanks a lot
But talk can't take the place of meat
or fill an empty pot.

So left, two, three!
So left, two, three!
Comrade, there's a place for you.
Take your stand in the workers united front
For you are a worker too.

And because a man is human
he won't care for a kick in the face.
He doesn't want slaves under him
Or above him a ruling class.

So left, two, three!
So left, two, three!
Comrade, there's a place for you.
Take your stand in the workers united front
For you are a worker too.

And because a worker's a worker
No one else will bring him liberty.
It's nobody's work but the worker' own
To set the worker free.

So left, two, three!
So left, two, three!
Comrade, there's a place for you.
Take your stand in the workers united front
For you are a worker too

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