E diga-se desde já do Peyroteo que, capricho à parte, foi o maior, maiorzíssimo que o Eusébio, esse aparecido providencialmente na era do marketing. Eis a comparação segue a história (...).
Pois toma, foi mesmo ó quê. A Académica a marcar golos, o Peyroteo a empatar de cada vez que o seu (de verde-escuro) guarda-meta Azevedo chupava mais um. Assim: avança a Académica, enleia o adversário, troca a chincha de um para outro jogador, aproxima-se da baliza, pode marcar, pooode marcar maaarqué gooolo! E logo a seguir: avança o Peyroteo, faz uma finta, aplica uma gambeta, dribla um, dribla dois, volta atrás e dribla-os novamente, arranca, marca, não marca, ainda não marcou, agòraèqué agòraèqué ó minhamãe e bumba, foi. Ajudem-me quantos se lembram – FORAM CINCO, NAO FORAM? Pasmai, ó miúdos de hoje, e repasmai, e contrapasmai se quiserdes, que aquilo parecia um pasma de guarda a um galinheiro. Do lado de cá onze em preto viúvo, do lado de lá o Peyroteo e, a ajudar o Peyroteo, dez manos jeitosos, mas nem por isso (os manos que me desculpem – isto na memória embrulha-se a cada passo e acontece sermos menos verdadeiros) (...)
Vidas de craque. Pois na segunda parte a máquina carburou ainda melhor, aplicou desconhecidas novas gambetas na malta, fingiu que corria, driblava, não driblava, e sempre bumba, bumba, bumba prà baliza da Académica, cujo nº1 (neste século recuado não havia números) se punha a rezar a um deus desconhecido, como o protagonista do John Steinbeck. Cinco a cinco! Há lá resultados destes no futebolinha coisa pouca de 1972?
Fernando Assis Pacheco, «Memórias de um craque»
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