É bem possível que nunca uma greve geral tenha sido tão previsível como a que teve lugar em Portugal a 24 de Novembro de 2011. Exactamente um ano após a última greve geral – cujos cartazes e faixas puderam até ser reutilizados, no contexto da “difícil situação que o país atravessa” –, tivemos direito a uma espécie de repetição, agora com novo governo, nova austeridade, novas “medidas gravosas para os trabalhadores e as camadas mais desprotegidas da população”, somadas apenas a mais raiva e a mais angústia. Desta vez, assinale-se, até as confederações patronais e os partidos de direita afirmaram “compreender” as razões dos grevistas e do seu desagrado, com a despreocupação de quem sabe estar tudo previamente decidido noutras instâncias e a convicção de que, após os protestos habituais das pessoas de sempre, o marfim continuará a correr. [...]
Nunca foram tão frequentes as alusões à conveniência técnica e política de suspender (temporária ou permanentemente) a democracia e este ou aquele direito que emperra excessivamente a engrenagem da austeridade. Toda esta gente, que conduz (?) neste momento o saque organizado a que foi submetida a classe trabalhadora portuguesa, sabe e teme que o pior ainda está para vir. A sua maior preocupação é que a crescente consciência de que não é possível travar esta ofensiva com passeatas e protestos cívicos se materialize em escolhas e actos por parte de quem se organiza para resistir. Procuram criminalizar preventivamente as posições, análises e discursos que defendem semelhantes pontos de vista, na idiota ilusão de que o conflito social pode ser convertido num caso de polícia. Nos próximos meses se verá até que ponto estão dispostas a ir, uma e outra parte deste afrontamento, que promete ter chegado para ficar. A este inverno suceder-se-á outro e depois mais outro. Tudo indica que as coisas estejam prestes a aquecer e não é preciso ser um meteorologista para perceber para que lado sopra o vento.
O resto do texto que escrevi acerca da greve geral está disponível no Passa Palavra.
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