Como a música pop é um assunto demasiado sério para ser tratado num post de um dia de verão, sugiro que falemos de um estilo musical que se auto-propôs incendiar o planeta. Refiro-me à Fire Music, um termo cunhado pelo saxofonista Archie Shepp, que se tornou o cognome do Free Jazz. Nomes como Albert Ayler, Cecil Taylor, Frank Wright, Alan Silva, Peter Brotzmann, entre outros, são representativos dessa corrente, que se distinguiu por apresentar o lado mais abrasivo e incendiário do Jazz.
O Jazz em Agosto, que para gáudio da multidão já chegou à fundação do magnata arménio, apresenta anualmente o melhor que se faz no campo da «música transidiomática com vocação cósmica», como Jorge Lima Barreto a catalogou. Este ano não é excepção. Para além do trio Fire! de Mats Gustafsson, e da formação que junta as guitarras da banda punk The Ex a Ken Vandermark e Paal Nilssen Love, temos ainda o quarteto de Peter Brotzmann, «Hairy Bones», que promete calar os aviões que sobrevoarem o auditório ao ar livre à hora do concerto.
No tempo em que a música ainda não se tinha entregue à indulgência da retromania, Brotzmann & sus muchachos ousaram transpor o som das metralhadoras para música, gravando o álbum «MachineGun» (1968) . Um disco ruidoso, agressivo e vigoroso que é um verdadeiro assalto sónico para os ouvidos mais desprevenidos. Não admira que desde então Brotzmann tenha sido classificado de terrorista e comunista, insígnias que só abonam a favor da sua música catártica e revolucionária. Eis uma pequena amostra do poder dinamitador de Brotzmann a tocar o tema da dupla Brecht/Eisler, «United Front Song»