Ao contrário do que alguns querem fazer crer, nunca o Benfica foi o clube do regime deposto em 25 de Abril de 1974. Antes pelo contrário.
No Benfica já havia democracia quando ela chegou ao País (eram célebres as assembleias gerais e as eleições no Clube) e nele chegaram a lugares de destaque conhecidas figuras da oposição.
Além disso, o Benfica inaugurou campos a 5 de Outubro e não a 28 de Maio, como outros o fizeram!...
O Benfica foi mesmo o clube que menos ligações teve com a ditadura e que mais dores de cabeça provocou a Salazar. Embora, nos últimos anos, por via das suas vitórias europeias e de ter Eusébio nas suas fileiras, tivesse dado bastante jeito ao regime, a propósito da sua política ultramarina.
O Benfica nunca se serviu do regime (antes pelo contrário); o Benfica foi aproveitado pelo regime, depois de por ele prejudicado ao longo de muitos anos.
Bastará recordar o facto de, num país onde vigorava uma ditadura e onde as eleições não eram livres, o Benfica ser um verdadeiro oásis, com as suas assembleias gerais bem concorridas e democráticas e com as eleições para escolha dos seus dirigentes, sempre muito participadas.
Ainda antes de haver democracia no País já ela era praticada no Benfica!
As raízes populares do Benfica, que têm a ver com a sua fundação (bem diferente da do Sporting, por exemplo), nunca deixaram de se fazer sentir. E, ao contrário do que se verifica nos outros clubes grandes (Sporting, FC Porto, até Belenenses), os sócios que ascenderam à presidência do clube são de vários extractos sociais, desde um operário (Manuel da Conceição Afonso) a um aristocrata (Duarte Borges Coutinho), um e outro grandes presidentes que passaram pelo Clube.
Mais que uma vez teve o Benfica declarados oposicionistas ao antigo Regime como presidentes, casos mais flagrantes do referido Manuel da Conceição Afonso, de Félix Bermudes e do capitão Júlio Ribeiro da Costa, que não se quis recandidatar, uma vez que reconheceu que a sua presença à frente do Clube estava a fazer com que este fosse seriamente prejudicado pelas entidades oficiais.
Recorde-se que, na altura, a organização desportiva nacional estava fortemente dependente dos organismos oficiais e, nomeadamente, da Direcção-Geral dos Desportos, na época, conhecida por “Direcção-Geral do Sporting”, tal a força que o clube de Alvalade nela tinha… Nela e em várias outras instâncias do anterior regime, como se pode apreciar através da composição do Conselho Leonino à data de 25 de Abril de 1974…
Outro exemplo elucidativo da distância que o Benfica mantinha do Estado Novo:
-O primeiro director do jornal do Benfica, entre 1942 e 1945, foi José Magalhães Godinho, conhecido oposicionista, que chegou mais tarde a presidente da Comissão Central do Clube.
Mas o Benfica teve também como dirigentes e sócios de relevo figuras afectas ao antigo Regime. No Clube não se faziam descriminações.
Sem campos de jogos, enquanto o Sporting nasceu rico e nunca teve problemas com os seus campos de jogos, em terrenos doados pelos seus aristocráticos fundadores, e o FC Porto foi bastante ajudado na construção dos seus estádios, o Benfica passou por inúmeras dificuldades, saltando de uns pontos para outros da cidade.
Teve que deixar o campo em Benfica em 1923 para a construção de uma rua de acesso à antiga Escola do Magistério Primário que só viria a ser uma realidade em… 1992!
Foi expropriado do seu campo das Amoreiras para construção do viaduto de acesso à auto-estrada para o Estádio Nacional, tendo então que arrendar o antigo campo do Sporting, no Campo Grande.
E só quase 50 anos depois da sua fundação conseguiu (e mesmo assim durante muitos anos a título precário) os terrenos na Luz, onde finalmente pode implantar o seu Estádio.
Uma questão de datas Curiosas (e reveladoras!) as datas simbólicas utilizadas pelos clubes. O Estádio das Antas foi inaugurado a 28 de Maio (de 1952), dia comemorativo da revolução que deu origem ao Estado Novo.
O antigo campo do Sporting que o Benfica viria a ocupar em 1941 ficava no topo do Campo Grande, então conhecido como Campo 28 de Maio. Não só o Benfica nunca assim o designou (era, simplesmente, o campo do Campo Grande) como o inaugurou a… 5 de Outubro, data comemorativa da implantação da República e bem pouco do agrado do regime que então dirigia o País!
E ainda… Há muitos outros exemplos que refutam claramente eventuais ligações do Benfica ao antigo Regime.
Desde as bandeiras do Benfica que substituíram as da antiga União Soviética (proibidas) aquando das manifestações populares que se seguiram à vitória aliada na II Guerra Mundial (1945) à proibição dos jornais falarem nos “vermelhos” quando se referiam ao Benfica, passando a denominá-los “encarnados”.
Desde o silenciamento progressivo do antigo hino do Clube, composto por Félix Bermudes em 1929, denominado “Avante pelo Benfica!” ao facto do Estádio da Luz apenas ter sido utilizado pela selecção nacional 17 anos depois da sua inauguração, em 1971, ao invés dos estádios do Sporting, FC Porto e Belenenses, que várias vezes viram neles jogar a selecção nacional.
http://www.forumscp.com/images/saudacao_fascista_slb.jpg
ResponderEliminaré triste ver gente supostamente bem pensante a exaltar a "pureza" ideológica do benfica por comparação com os decerto "fachos" do sporting ou porto... esta foto será porventura uma montagem?
esta é uma discussão muito divertida, sem dúvida. na verdade, e em declaração de interesse (?), sou do sporting, mas gostei bastante da entrevista do eusébio. é um documento histórico bastante interessante.
ResponderEliminarno entanto, é isso mesmo: um documento histórico, ou seja lá o que for, que não pode ser lido sem problematização (o que não põe em causa a honestidade do entrevistado)
agora, dizer que no benfica havia democracia antes de esta existir no país é como alguém vir dizer que nunca houve fascismo em portugal porque havia comunismo agro-pastoril em trás-os-montes.
da mesma maneira, parece-me uma evidência sociológica que o sporting tinha uma popularidade sem equivalente em certas elites, o que, aliás, ainda é verificável.
no entanto, mesmo sem ter 6 milhões de adeptos, também creio ser inegável que é um clube de massas, i.e., transversal em termos sociais.
portanto, a minha questão é a seguinte: esta discussão serve para quê? é suposto eu deixar de ser do sporting porque sou de esquerda e as duas coisas são incompatíveis?
se for isso, proponho o seguinte: criar um clube de futebol novo, internacionalista e revolucionário, pois nem o benfica, nem o sporting, nem o porto servem para as nossas filiações políticas ou padrões éticos. o campo pode ser chamado "comuna da marinha grande", pode ficar desde já estipulado que só paga bilhete para ver o jogo quem tiver rendimento superior a um valor a decidir e um dos objectivos futuros é criar um campeonato sem árbitros e autogestionado.
abraço
sendo a primeira vez que aqui venho pergunto , o senhor para além de futebol sabe mais o quê ?
ResponderEliminarAcho que esta discussão não serve para nada a não ser para o pessoal se divertir um bocado. Não levem tudo tão a sério. Até um facho aqui apareceu a tratar pessoal por senhor.
ResponderEliminarquando alguem tem uma imagem que acompanhou os nossos "egrégios avós" é apelidado de facho apenas por esse facto , então por certo devemos ser merecedores do país que temos !
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