Toda a gente sabe o que aconteceu aos habitantes do continente americano após a chegada dos europeus. Quando não foram massacrados durante a conquista ou dizimados pelas doenças e pela escravatura, enfrentaram sucessivas vagas de colonizadores que acabaram com o seu modo de vida, cercando as planícies e abatendo sistematicamente a sua caça. Para os mais inconformados, sobrou a cavalaria e um combate tão desesperado quão desigual contra a morte lenta a que foram condenados.
Olhamos hoje em dia com simpatia para o que resta da sua memória e somos capazes de reconhecer dignidade na sua insubmissão, para além do fascínio exercido pela sua cultura. Mas é preciso recordar que estes foram durante muito tempo encarados como “selvagens” que se opunham ao progresso e que era necessário pacificar. Toda uma civilização (esta) pode fazer recuar a sua genealogia a esse momento original de genocídio e barbárie.
Salvaguardadas as devidas (e importantes) diferenças, é um processo semelhante que vivemos hoje. Uma nova ordem se desenha, na qual não sobrará espaço para outros modos de vida que não os da produção e do consumo, da resignação encolhida e do silêncio obediente. Culturas e valores incompatíveis com este futuro alucinante serão “pacificadas”, espoliadas dos seus territórios e colocadas em reservas. Para os mais inconformados, sobrará a cavalaria, como não se cansam de nos repetir. Todos sabemos o que aconteceu e é por isso mesmo que, a poucos dias de uma greve geral, os “selvagens” que povoam o território metropolitano devem ter noção do que está em causa. Está na altura de desenterrar o machado de guerra.
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