segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Fogo grego


Durante a Idade Média tornou-se célebre uma substância de misteriosa composição, conhecida como fogo grego. Tratava-se de um líquido inflamável, expelido por um sifão e utilizado especialmente em batalhas navais pelos bizantinos, antepassados dos gregos modernos. Os testemunhos da época descreveram-no como um prodígio, uma vez que os incêndios que provocava não podiam ser apagados com água, que, pelo contrário, se limitava a difundir as chamas e a fazê-las crescer. O fogo grego só podia ser apagado recorrendo a substâncias pouco ortodoxas: areia, vinagre e urina.
Alguma coisa terá mudado desde os tempos remotos de Kallinikos, a quem foi atribuída a invenção. E contudo, não são poucos os incêndios atuais ampliados pelos métodos empregues para os apagar. Muitos litros depois, parece cada vez mais claro que toda a água do mundo não apagará o fogo que consome a Grécia e que vai aquecendo Portugal. A ameaça de fechar a torneira parece surtir por isso um efeito cada vez menor.
O Hospital Geral de Kilkis entrou em autogestão por decisão dos seus trabalhadores, que respondem assim com democracia directa ao regime de austeridade musculada imposto pelos credores, enquanto os Sindicatos da Polícia colocaram a prémio a cabeça dos representantes da troika UE/FMI/BCE.
É bem possível que, depois de terem oferecido tanto ao mundo, os gregos estejam prestes a ensinar-nos o melhor método para controlar esta deflagração: é preciso queimar os fósforos nas mãos dos incendiários. Um pouco de chuva dourada também não está fora de questão.  
Fogo grego, Jornal I

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