A propósito da mais recente operação de reconhecimento forçado do passado como um "lugar" dogmático e indiscutível, em que a força repressiva da lei se opõe e sobrepõe à violência do próprio negacionismo enquanto posicionamento ideológico, vale a pena ler em jeito de pré-lançamento um parágrafo do livro Passado, modos de uso de Enzo Traverso:
"As tendências apologéticas na historiografia do fascismo e do nazismo devem ser combatidas mas não opondo-se-lhes uma visão normativa da história. É por isso que as leis contra o negacionismo podem revelar-se perigosas. Se o negacionismo deve ser combatido e isolado em todas as suas formas – o de Robert Faurisson e o de David Irving, tal como o, aparentemente mais respeitável, de Bernard Lewis - vários historiadores (nos quais me incluo) mostraram ter dúvidas sobre a oportunidade de o sancionar pela lei. Isto levaria a instituir uma verdade histórica oficial protegida pelos tribunais com o efeito perverso de transformar os assassinos da memória em vítimas de uma censura, em defensores da liberdade de expressão."
Enzo Traverso, Passé, modes d'emploi - histoire, mémoire, politique, La Fabrique
Nem mais, caro Tiago. Tal era, de resto, no essencial, a posição também de Pierre Vidal-Naquet.
ResponderEliminarSaudações cordiais
msp