Enquanto alguns continuam entretidos com o concurso de blogues da TVI, uma competição de vida ou morte (severina) para a luta de classes em Portugal, fora desta lusa farronca sem vintém os blogues bons, bonitos e agradáveis, começaram a desaparecer. Tal como o Fernando Assis Pacheco nunca foi «grande espingarda em montarias ao soneto importado» (Ver «Respiração Assitida»), eu também não fui talhado para fazer obituários, mas com tantos blogues a morrer não há palavra muda que aguente. Depois do Mark Fisher ter resolvido pôr o seu blogue a hibernar, e a Nina Power informar os seus leitores que ia entregar os papéis para a reforma, foi a vez de Evan Calder Williams decretar o fim do fenomenástico http://socialismandorbarbarism.blogspot.com/
Caldeirada Williams faz parte do muito cá de casa e, relembre-se, deixou para posteridade o comentário mais apetitoso sobre os motins de Londres: «Carta aberta a todos os que condenam os motins», traduzido pelo operário-poeta Miguel Cardoso, que também se embebeda, ou embebedava, nesta tasca, e publicado nas Edições Antipáticas.
Evan Calder Williams aproveitou o fim do seu blogue para escrever um longo excurso, que uma alminha caridosa podia fazer o obséquio de traduzir, sobre a finitude, a amizade, a efemeridade, os suportes digitais, as lutas, as línguas, Carlo Emilio Gadda, as consequências da dor, o comunismo, etc. Sobre o comunismo, Calder Williams deixou uma pequena nota, colocada entre parêntesis, que me parece bastante produtiva para quem se situa no campo político da igualdade. Como diria Rancière, quem não parte do pressuposto da igualdade das inteligências corre o risco de encontrar a desigualdade em cada esquina. Algo que costuma acontecer com frequência no campo do gosto, que é um terreno profícuo para demarcações simbólicas, hierarquias e desdéns de vária ordem. Por oposição às comunidades do bom gosto, cheias de luminárias, deferências, pancadinhas nas costas e pedagogias bem-intencionadas, não fosse o seu objectivo libertar os plebeus do seu gosto pouco refinado, Calder Wiliams apresenta-nos uma alegoria do «mau gosto». Quem sabe esta não é a alegoria que faltava para o comunismo do século XXI:
Note: as a defender of communism as structurally a project of "bad taste," insofar as it is the flowering of the misuse of things, of going too far, of dwelling at the edges of the underutilized capacity of spaces, techniques, and material, I stand firmly in support of that insane frenzy of available styles. It's no accident that so fucking gauche and far left mean basically the same thing. The last thing we need is to shackle ourselves transhistorically to a cool minimalism.
Caldeirada Williams faz parte do muito cá de casa e, relembre-se, deixou para posteridade o comentário mais apetitoso sobre os motins de Londres: «Carta aberta a todos os que condenam os motins», traduzido pelo operário-poeta Miguel Cardoso, que também se embebeda, ou embebedava, nesta tasca, e publicado nas Edições Antipáticas.
Evan Calder Williams aproveitou o fim do seu blogue para escrever um longo excurso, que uma alminha caridosa podia fazer o obséquio de traduzir, sobre a finitude, a amizade, a efemeridade, os suportes digitais, as lutas, as línguas, Carlo Emilio Gadda, as consequências da dor, o comunismo, etc. Sobre o comunismo, Calder Williams deixou uma pequena nota, colocada entre parêntesis, que me parece bastante produtiva para quem se situa no campo político da igualdade. Como diria Rancière, quem não parte do pressuposto da igualdade das inteligências corre o risco de encontrar a desigualdade em cada esquina. Algo que costuma acontecer com frequência no campo do gosto, que é um terreno profícuo para demarcações simbólicas, hierarquias e desdéns de vária ordem. Por oposição às comunidades do bom gosto, cheias de luminárias, deferências, pancadinhas nas costas e pedagogias bem-intencionadas, não fosse o seu objectivo libertar os plebeus do seu gosto pouco refinado, Calder Wiliams apresenta-nos uma alegoria do «mau gosto». Quem sabe esta não é a alegoria que faltava para o comunismo do século XXI:
Note: as a defender of communism as structurally a project of "bad taste," insofar as it is the flowering of the misuse of things, of going too far, of dwelling at the edges of the underutilized capacity of spaces, techniques, and material, I stand firmly in support of that insane frenzy of available styles. It's no accident that so fucking gauche and far left mean basically the same thing. The last thing we need is to shackle ourselves transhistorically to a cool minimalism.
Se o Caldeirada Williams caldeirou isso sobre o comunismo, está caldeirado, não se fala mais nisso.
ResponderEliminarE eu que pensava que ele era um comunista de bom-gosto.
ResponderEliminarhttp://www.vogue.it/en/uomo-vogue/people/2011/01/evan-calder-williams
anónimo
obrigado pelo link anónimo. parece o robbie williams a posar para poster de adolescente. caldeirada williams é mesmo irrecuperável para o bom-gosto.
ResponderEliminarAliás, arrisco um pezinho de tradução: "Enquanto defensor do comunismo como um projecto estruturalmente de «mau gosto», na medida em que ele representa o florescimento do uso indevido das coisas, do ir longe de mais, da deambulação pelas margens da capacidade sub-aproveitada de espaços, técnicas e materiais, permaneço firme no meu apoio a esse louco frenesim de estilos disponíveis. Não é por acaso que tão fodidamente gauche e extrema-esquerda signifiquem basicamente a mesma coisa. A última coisa de que precisamos é acorrentar-nos transhistoricamente a um minimalismo fixe".
ResponderEliminarEsta parte do so fucking gauche é tramada.