Há uns anos João Galamba recomendava-nos a leitura de uma obra de Marx que só ele conhecia, O idealismo alemão. É agora a vez de Pedro Picoito se colocar em bicos de pés para recomendar a terceiros a leitura do 18 de Brumário de Luís Napoleão. Seria trágico, se não fosse simplesmente ridículo, ver alguém a exibir na mesma frase o seu pedantismo e a sua boçalidade, sem nunca correr o risco de ser confrontado com uma e outra coisa.
São estas pessoas que a esquerda moderna e a direita assim-assim nos oferece como intelectuais orgânicos, gente que gosta de se ler a si própria a citar os clássicos, a dar conselhos e lições, a emitir sentenças. E para quê? Para a profundidade do seu pensamento, para o rigor com que observam a realidade, para o interesse do que têm a dizer acerca do que quer que seja, citar as páginas do Correio da Manhã ou da Men's Health chegaria perfeitamente. Mas nada disso lhes parece suficiente e, uma vez que frequentam sobretudo salões de chá e copos de água onde este tipo de parvoíces passa por erudição e profundidade, eis que se abalançam a comentar a história do nosso tempo como se ela já tivesse acabado.
Que não se pense, porém, ser tudo isto desprovido de significado. Citação por citação, eis uma que lhes encaixa como uma luva:O domínio da história era o memorável, a totalidade dos acontecimentos cujas consequências se manifestariam durante muito tempo. Era inseparavelmente o conhecimento que deveria durar e ajudaria a compreender, pelo menos parcialmente, aquilo que aconteceria de novo: «uma aquisição para sempre», diz Tucídides. Por isso, a história era a medida duma novidade verdadeira; e quem vende a novidade tem todo o interesse em fazer desaparecer o meio de a medir. [...] Acreditava-se saber que a história tinha aparecido, na Grécia, com a democracia. Pode verificar-se que ela desaparece do mundo com ela. É preciso porém acrescentar a esta lista de triunfos do poder, um resultado para ele negativo: um Estado, em cuja gestão se instala duravelmente um grande défice de conhecimentos históricos, já não pode ser conduzido estrategicamente.
Só uma achega provavelmente tão fútil como a citação criticada: Luís Bonaparte e não Luís Napoleão.
ResponderEliminarTu é que és ( desculpa na volta és prof.dr. não devia estar a falar assim) o Noronha tradutor e editor do Portugal à Coronhada? Muito bom.
ResponderEliminar(só passei para saber, o meu colega do buro, o Picoito, e o Malenkov depois tratam-te da saúde lá na polémica do Bonaparte)
Acho que esse é o outro. Eu sou apresentador na tv brasileira (http://youtu.be/l5Kao-Go5uQ)
ResponderEliminarNão, a sério, sou mesmo eu (o tradutor, não o editor). Como diria a Fanny, se a ti te gusta a mi me encanta. Mas acho que o mérito é sobretudo do Diego.
Quando à eminente pardiência que se encarregou de rever o título do livro (obrigado camarada anónimo, mas eu reparei na imagem que pus no post), cá a aguardo. Não faltarão citações para esgrimir.
Mas... Só agora constato que o post foi corrigido sem referir o erro cometido anteriormente. É que nem o João Galamba desceu tão baixo. Que é feito do vosso livro de estilo?
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